quinta-feira, 10 de novembro de 2011

15. Da USP para o mundo

   Artigo de Fellipe de Andrade Abreu e Lima enviado ao JCEmail pelo autor.

Os atuais eventos ocorridos na Universidade de São Paulo, desde a invasão do prédio da administração da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), motivada aparentemente por uso de drogas ilícitas nesse espaço, até a mais recente invasão do edifício da principal da reitoria, mesmo contra a decisão de uma maioria em votação aberta, evidencia uma problemática no que entendemos como democracia.

A problemática acerca da representatividade tem acarretado manifestações em todo o mundo. Desde os mais graves no mundo árabe até manifestações mais sóbrias e pacíficas nas ruas das grandes cidades na América do Sul, do Norte e norte da Europa. Isso sem falar das grandes manifestações nos países da União Européia e algumas dos EUA.

Qual a centralidade do problema, enfim? A falta de representatividade é notória em todo o mundo. A concentração de renda aumenta numa velocidade de 3%, em média, a cada ano. Essas notícias são ainda brandas, pois quando vivemos num mundo que produz excedente de alimento, de capital e de conhecimento, pouco chega às mãos da maioria da população. Essa problemática ainda é maior quando sabemos que a destruição de um sistema aqui, prejudica as pessoas do outro lado do mundo, e vice-versa. O estabelecimento de fronteiras e autonomias nacionais prejudica o diálogo e o respeito mútuo.

Precede a tudo isso, contudo, a dignidade humana e o respeito à vida. É inadmissível vermos ainda hoje a incapacidade dos governos em representar aos seus cidadãos. As razões são muitas e não é possível listá-las todas. A falência do sistema capitalista é óbvia, mas sua capacidade de reinventar-se é alimentada pela ânsia dos mais favorecidos em manipular o sistema estabelecido. O pavor de mudanças é compreensível, mas imperdoável. Hoje em dia, graças às grandes mudanças da humanidade oriundas muitas da tecnologia, podemos exercer nossa própria representação sem mais termos que fazer uso do sistema representativo atual; isso em todo o mundo.

À parte aquelas sociedades bem mais evoluídas que a nossa, como as indígenas e as ditas primitivas em que as decisões são bem mais coletivas que as nossas, podemos perceber que ainda usamos um sistema fruto de uma sociedade do século XIX, quando as monarquias começaram a cair por terra. Óbvio que algumas caíram antes e outras ainda persistem.

Apesar de tudo isso, não é mais possível sustentar essas injúrias e injustiças graças à contribuição de jovens tecnólogos que criaram e, ainda criam, tecnologias eficientes para mudança social. Desde o acesso à informação, há poucas décadas ainda na mão de favorecidos históricos, passando pelo acesso à alimentação e saúde, em alguns países que ainda sustentam uma bandeira socialista, podemos denunciar que há uma luz no fim do túnel.

Recentemente, veio à tona a discussão de poder na USP e nas demais universidades brasileiras, que ainda concentra as decisões nas esferas de poder internas, com pouco ou nenhum ouvido à sociedade que a financia ou aos alunos que se beneficiam destas. Apesar de filhos da alta classe social, longe de ser a massa formadora do Brasil, alguns perceberam sua função de emancipadores sociais e contribuem cotidianamente para sua melhoria.

Vem do Rio Grande do Sul um sistema chamado SAELE - Sistema Aberto de Eleições Eletrônicas (acessível em: http://www.softwarepublico.gov.br/ver-comunidade?community_id=42365353). Esse instrumento foi desenvolvido pela UFRGS com o acesso inicial às universidades brasileiras. Apesar de esse sistema ser de domínio privado, entendo que deva servir de modelo às nações e ao mundo todo. Somos cidadãos do mundo, dividimos um mesmo planeta, um mesmo universo.

Tão burlesco quanto patentear medicamentos e tecnologias, pois o bem comum deve ser a finalidade única e última de toda construção humana, é ter um sistema que pode mudar o mundo sendo usado para consulta universitária. Esse mecanismo, possibilitado graças ao financiamento público, deve ser uma ferramenta para abolir o velho sistema de representação que vivemos e guiar-nos rumo à nova sociedade do futuro, uma que seja muito justa e bem mais feliz.

As entidades científicas no Brasil deveriam iniciar um processo de divulgação e uso desse sistema entre todos os cidadãos, não apenas os favorecidos letrados, mas a todos, sem discriminação nenhuma. Órgãos como ONU e presidentes devem, urgentemente, difundir essa idéia entre os representantes executivos para embasar suas decisões numa democracia direta é a exigência nos dias atuais.

Nesse sentido, cabe-nos a tarefa de exigir, ao mínimo, a consulta às decisões tomadas pelos órgãos representativos, sejam essa as decisões de uma universidade como a USP, a mais importante da América Latina, sejam nas prefeituras, estados, ou blocos continentais. O mundo é único e de todos.

Fellipe de Andrade Abreu e Lima, Ph.D. Visitor Fellow Harvard University 2010-1011, Doutorando FAUUSP, Arquiteto e Urbanista.

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