sábado, 20 de julho de 2013

Os Inocentes do Leblon bsc



Os Inocentes do Leblon

Publicado em 20 de julho de 2013 por repimlins



Foi no Leblon. E, como previsto, parou tudo. Quebraram lojas no Leblon. Vitrines. No Leblon de Manoel Carlos. Quebraram.

Parou tudo e o governador acusou “organismos internacionais” de estarem organizando as manifestações. Anunciou a criação da comissão com o nome mais ridículo que eu já vi na vida: a “Comissão Especial de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas”, para a qual minha irmã sugeriu a singela sigla COMESINAVANMANPU. Porque só o riso salva, se o papa deixar.

Tem gente defendendo. Falando dos empresários trabalhadores, batalhadores, que construíram o patrimônio à custa do suor do seu rosto. E blá-blá-blá. Aí paro eu. Paro porque não dá pra falar disso assim, descontextualizado. É Rio, amigo. O Rio onde a polícia anda barbarizando há tantas semanas. Brincando de jogar gás lacrimogêneo, prendendo gente a torto e a direito. No Leblon mesmo, naquele dia, prenderam um grupo, forjaram provas, quiseram indiciar por formação de quadrilha gente que nem se conhecia. Que tava fugindo da polícia que barbarizava. O Rafucko conta essa história com palavras e imagens, aqui.

E isso foi no Leblon. Naquele dia, naquele mesmo dia. No mesmo dia, a Rocinha fazia manifestação protestando contra o desaparecimento de um morador, o pedreiro Amarildo Dias de Souza. Segundo sua mulher, ele foi levado à UPP para “prestar esclarecimentos”. E nunca voltou.

Antes disso, teve pancadaria durante a Copa das Confederações. Teve pancadaria no Centro, teve pancadaria nas Laranjeiras, com direito a gás lacrimogêneo em hospitais (vários), ao apagar de luzes no momento da ação policial violenta, realizada por indivíduos muitas vezes sem identificação. Os relatos tão aí, é só procurar, a Mídia Ninja fez coberturas de todos esses eventos.

Mais importante do que isso tudo: teve a Maré. Teve os mortos da Maré (dez? doze?), a chacina da Maré. Os mortos da Maré, os feridos da Maré, as casas invadidas da Maré, o medo da Maré.

E nenhuma fala, de nenhum dos nossos governantes, nem do Secretário de Segurança, para reconhecer a violência policial desmedida. Para dizer que ia coibir os abusos, para investigar quem matou na Maré. Pra tomar o pulso disso tudo de dizer que isso tem que parar. Muito pelo contrário: as declarações do Secretário de Segurança Mariano Beltrame sobre a chacina da Maré dão vontade de chorar. “Infelizmente encontramos uma situação de conflito na Maré, onde o Estado foi atacado e reagiu”, disse ele. E mais: “Não houve qualquer reação à manifestação: a polícia agiu para conter um crime”. Nada sobre o horror relatado pelos moradores, sobre as casas invadidas, as pessoas machucadas e aterrorizadas, impedidas de olhar para cima pelos representantes de uma ordem que só representa a eles mesmos. Nada sobre o transformador destruído a tiros, que deixou a Nova Holanda sem luz por dois dias. Nada sobre os mortos. O governador? Demorou dez dias para falar a respeito.
Maré

Só que quebraram vitrines no Leblon. Aí não. No Leblon não pode. Aí já é vandalismo, e toma reunião de emergência, e toma criação de Comissão Especial De Nome Ridículo. Sinto muito. Não dá para falar sobre o Leblon agora. Não antes de se falar da polícia. Dos governantes. Das pessoas que morreram, das pessoas que sofreram e continuam sofrendo com a violência cega e desmedida dessa polícia que, parece, é muito bem mandada.

Mas parece que, para a mídia dominante, só isso existe: as vitrines do Leblon tomaram conta do noticiário. O choro do empresário. As cenas dos cacos. Isso virou o centro de tudo, a justificativa de tudo. As vitrines do Leblon permitem tudo.

O Leblon que me desculpe: tenho outras prioridades. E acho que quem governa o Rio de Janeiro também deveria ter.

https://www.youtube.com/watch?v=r_l8OHiPRG8

Nenhum comentário:

Postar um comentário