quinta-feira, 27 de março de 2014

Estes doutores não são escravos. Treinam para serem animais…



Estes doutores não são escravos. Treinam para serem animais…
25 de março de 2014 | 16:55 Autor: Fernando Brito

trote

Sem que tenha tido destaque nos jornais, o UOL noticia hoje que Luiz Fernando Alves, 22, desistiu de cursar a Faculdade de Medicina de Rio Preto por conta das ameaças que recebeu de veteranos do curso em razão de ter denunciado à polícia e à direção da instituição as agressões e torturas que recebeu numa “festa de trote”.

Note que serão, em pouco tempo, médicos.

Dias atrás, apareceu o caso das meninas da USP de São Carlos, submetidas a humilhações sexuais por veteranos.

O fenômeno dos trotes violentos – e não precisa nem ser assim para ser violento – tem uma ligação muito forte com o pensamento “coxista”que está se espalhando na nossa juventude de classe média.

Não sou purista e já recebi e passei trotes. mas nada que fosse além do que meu ex-calouro e bom colega de O Dia, Fernando Molica, descreveu em seu blog, num ótimo artigo sobre o fascismo nestes ritos.

Por isso, transcrevo aqui o que outro correto companheiro de profissão, Leandro Fortes, publicou em seu Facebook.

Um alerta sobre o que podem carregar, na alma e em sua formação, alguns profissionais cuja função, contraditoriamente, é cuidar da saúde e da dignidade de seres humanos.
Mais médicos, menos canalhas

Leandro Fortes

Quando é que as reitorias das universidades públicas vão enfrentar, de fato, essa tradição cretina do trote, sobretudo nos cursos de medicina?

É inaceitável que pessoas que pretendem se tornar médicas possam, ainda que de forma lateral, participar dessa estupidez, dessa insensatez infantiloide que, no fim das contas, explica muito sobre os profissionais de medicina do Brasil.

Eu fui aluno de escolas militares nos anos 1970 e 1980, quando os trotes eram violentos e humilhantes, como esses das faculdades de medicina. Era uma violência que, obviamente, refletia o país em que vivíamos, o Brasil da ditadura, da tortura e do arbítrio.

Ainda assim, os militares partiram para o enfrentamento do problema, ainda nos anos 1980, e passaram a expulsar sumariamente os psicopatas que aproveitavam da tradição para agredir, extorquir e roubar calouros.

E é isso que falta nas universidades brasileiras: o recurso de expulsão sumária de quem dá trote, qualquer trote, e consequente abertura de processo criminal.

Também tem que acabar com essa babaquice de “trote cidadão”, porque, se é trote, nada tem a ver com cidadania. Ninguém pode ser coagido a nada por ser calouro, nem mesmo a doar cestas básicas ou a fazer faxina em creche.

O “trote cidadão” serve como brecha para o trote violento e a humilhação.

Estudantes de medicina que dão trote, qualquer trote, se tornam esses marginais de jaleco que veem a profissão como uma atividade de caça níqueis e dispensam aos pacientes um tratamento frio, desumano e canalha.

Isso quando não viram esses coxinhas rebeldes que têm nojo de andar na periferia, mas vão para o desembarque dos aeroportos chamar os médicos cubanos de escravos.

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