quinta-feira, 28 de abril de 2011

Que tal trocar de medo?

Que tal trocar de medo?

A vida é curta, mas ela é muito mais saborosa quando ousamos e aprendemos a lidar com as variáveis

Todos nós sentimos algum tipo de medo: medo de altura, de escuro, medo do desconhecido, do futuro, da violência urbana, medo de ser demitido etc.

O medo está ligado a um sentimento de auto-preservação comum em todas as espécies. Por isso, se você tem os seus medos, não há motivos para se envergonhar. No entanto, se esse sentimento ultrapassa alguns limites, ele pode se transformar em uma das inúmeras patologias populares da sociedade moderna, como a síndrome do pânico, o pavor noturno, a anorexia, entre muitas outras.

As causas desses transtornos psicológicos geralmente são associadas ao estilo de vida, à correria do dia a dia e ao stress. Eu não sou médico e não tenho autoridade alguma para me aprofundar sobre qualquer uma dessas patologias, porém, há um tipo de comportamento que tenho observado em muitos profissionais ao longo desses mais de 16 anos empreendendo: o medo de fracassar.

Este assunto beira ao clichê ou a mais um dos temas corriqueiros de autoajuda. Entretanto, mesmo sendo uma questão tão comum e debatida, percebo que, nos últimos anos, este problema tem ganhado maiores proporções e atingido todos os níveis dentro da hierarquia de uma companhia, podando a criatividade e limitando o potencial produtivo de muitos profissionais.

São várias as razões para o desenvolvimento do medo de fracassar: o desejo exacerbado por aceitação, a busca por admiração ou até mesmo por um impulso compulsivo, sem uma razão consciente, são algumas delas. Seja qual for o motivo, o medo de fracassar tem assombrado milhões de pessoas, de todas as idades, em todo o mundo.

Quantas pessoas você conhece que estão infelizes em sua área de atuação e não têm coragem de mudar? Elas gostariam de abrir um negócio próprio, mas têm medo de trocar suas pseudo-seguranças pelo novo projeto. Permanecem presas dentro de "jaulas imaginárias", temendo fracassar.

É incrível, mas essas pessoas não percebem que, ao permanecerem paralisadas, sua probabilidade de fracassar é matematicamente maior do que a própria mudança que tanto temem. Isso porque esse medo do fracasso desenvolve uma grande intolerância ao risco, ingrediente fundamental para o desenvolvimento de novos projetos e de uma carreira vitoriosa.

Ora, nascemos de uma corrida de mais de 300 milhões de espermatozóides, onde, nesta competição, o primeiro lugar recebe um grande prêmio: a vida! Que garantias todos nós tivemos nessa corrida? Absolutamente nenhuma! O risco é parte da vida. Não corrê-lo é a garantia de uma vida sem grandes realizações.

Como já citei, ter medo é normal e não há razão para preocupações. Teremos muitos medos ao longo da vida. Sendo assim, que tal se, ao invés de tentarmos nos privar de senti-lo, trocássemos de medo? Que tal trocarmos o medo de fracassar pelo medo de vivermos uma vida medíocre e, por conta disso, ousarmos mais? Ou trocá-lo pelo medo de viver uma vida sem aventuras, a fim de não cairmos na rotina? E se trocarmos o medo de fracassar pelo medo de nos arrependermos, porque não fomos ousados o suficiente? O medo é um instinto que pode se tornar doentio, mas também pode ser usado a nosso favor, como uma grande motivação (motivação = motivo para a ação).

A vida é curta, mas ela é muito mais saborosa quando ousamos e aprendemos a lidar com as variáveis. O risco não é um vilão; ele é o combustível da nossa criatividade, e os nossos fracassos são um instrumento pedagógico para a nosso próprio desenvolvimento como construtores dos nossos sonhos. Quem vive assim é mais livre para empreender, livre para fracassar e até livre para ter os seus medos, mas sem jamais ser escravizado por eles.

Flávio Augusto é empreendedor e fundador da Wise Up
@GeracaodeValor é um de seus canais no Twitter

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Professor Nicolelis: Palestra no Nobel e prêmio de U$ 3 milhões

26 de abril de 2011 às 20:10

Professor Nicolelis: Palestra no Nobel e prêmio de U$ 3 milhões

por Conceição Lemes
Desde 1965, a Fundação Nobel realiza os Simpósios Nobel. Afora os prêmios anuais, são o evento mais importante da instituição. São dedicados às áreas da ciência onde avanços estão ocorrendo. Mais de uma centena já aconteceu.
O de 2011 acontecerá em Estocolmo, Suécia, de 26 a 29 de maio. Chama-se 3M:  Mente, Máquinas e Moléculas.
Terá duas novidades. Uma: será multidisciplinar, até 2010, era por áreas, Física, Química, Fisiologia ou Medicina. A outra: pela primeira vez, um cientista brasileiro estará entre os conferencistas convidados. É o neurocientista Miguel Nicolelis. Formado em Medicina pela USP, ele está há 22 anos nos Estados Unidos, onde é professor e pesquisador na Universidade Duke. É co-fundador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lilly Safra.
“A ideia do simpósio 3M surgiu da constatação do progresso espetacular nos dispositivos de interface cérebro-máquina, tocando as fronteiras entre Física e Medicina. Após a adição de moléculas de Química e extensão de todos os aspectos, chegamos ao  simpósio 3M”, explica Jonna Petterson, da Fundação Nobel, ao Viomundo. “Temas como base molecular da transmissão neural, redes neuronais, interfaces cérebro-máquina, cognição e neurodegeneração serão abordados por palestrantes das esferas de Física, Química e Fisiologia ou Medicina.”
A palestra de Miguel Nicolelis será no dia 27 de maio: Princípios da Fisiologia do conjunto de neurônios e como podem ser usados ​​para libertar o cérebro.
Nicolelis já ganhou 38 prêmios internacionais por suas pesquisas. Dois deles, em 2010, dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos. Hoje cedo foi comunicado pelo mesmo NIH que ganhou mais um. Desta vez de U$ 3 milhões para pesquisar como as populações de neurônios (células do cérebro) usam o tempo para apresentar a informação. Em tempos de cortes de verbas nos EUA, uma façanha.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

BIG BROTHER BRASIL




BIG BROTHER BRASIL



Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.


Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.

Respeite, Pedro Bial
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dar muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.

Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.

Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo
“professor”, Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.

Isso é um desserviço
Mal exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.

É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.

Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.

E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.

E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.

E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.

A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.

Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.

Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?

Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal…



Salvador, Março de 2011.
AUTOR :
Antonio Barreto, Cordelista natural de Santa
Bárbara-BA,residente em Salvador.

sábado, 9 de abril de 2011

a cançao dos homens

A propósito da tragédia do Realengo, assistam a canção dos homens.  Depois leiam o artigo de José Ribamar Bessa Freire escrito em 2007.

http://www.youtube.com/watch?v=5D9ZOaOArj0

sexta-feira, 8 de abril de 2011


Eu odeio esta escola

Por José Ribamar Bessa Freire* (escrito em 2007 sobre os EUA, qualquer semelhança com o Brasil de 2011 é mera coincidência, ou não...)
Era apenas um menino, de 14 anos, solitário e triste. Cursava a nona série numa escola de Ohio, nos Estados Unidos. Quase ninguém o chamava pelo seu nome de batismo: Asa H. Coon. Como mancava de uma perna, era mais conhecido por um apelido cruel, algo assim como “Deixa-que-eu-chuto”. Nessa quarta-feira, 10 de outubro, entrou na escola com dois revólveres, um em cada mão, como um caubói disposto a se fazer respeitar no faroeste. Fez muitos disparos. Feriu quatro pessoas. Depois, se suicidou.

Foi preciso morrer para conquistar outro apelido: “Deixa-que-eu-atiro”.

No dia seguinte, longe dali, em Filadélfia, Pensilvânia, outro adolescente, também de 14 anos, foi preso. A polícia, após descobrir que ele acessava um site na internet com instruções para fabricar bombas, encontrou em sua casa um arsenal com pistolas automáticas e granadas. O menino estava preparando um ataque à escola, de onde havia fugido para evitar humilhações. Queria se vingar da crueldade dos colegas, que o chamavam de ‘Baleia Prenha’, por causa de sua extrema obesidade.

A violência nas escolas americanas já fez dezenas de vítimas, desde a tragédia de Columbine, em 1999, quando treze pessoas foram assassinadas. Há seis meses, em abril, foi um sul-coreano que matou 32 estudantes na Universidade Virginia Tech, e deixou um manifesto se queixando das afrontas recebidas porque pertencia a uma ‘cultura estranha’ e falava uma língua diferente. Em outubro do ano passado, cinco meninas foram assassinadas numa escola religiosa anabatista, na Pensilvânia. Um mês antes, um menino de 15 anos, matou o diretor de seu colégio, em Wisconsin. E por aí vai.

A Polícia descobriu a pólvora e a roda, quando classificou os autores dessa violência como “portadores de problemas emocionais e psicológicos”. Tal juízo foi feito muito tarde e pela instituição errada. Trata-se não de um diagnóstico médico, mas de um laudo policial preconceituoso, elaborado a posteriori, que olha hoje o ‘desequilibrado’, como no passado se olhava o leproso. Ele é visto como um inimigo da sociedade, que deve ser isolado e punido, e não como alguém que precisa de tratamento.

Ohio que o parta

Afinal, o que está acontecendo? Por que meninos usam a escola como palco de ações homicidas? O que estão querendo nos dizer quando se suicidam, depois de matar e ferir colegas e professores? A gente não consegue entender o recado que nem eles mesmos desconfiam que estão mandando. Talvez fossem compreendidos se escrevessem um conto ou poema, pintassem um quadro, compusessem uma música. Mas usaram a linguagem das balas, predominante hoje nos EUA e na ocupação americana do Iraque. Quem sabe George Bush pode nos traduzir, pois essa parece ser a sua língua materna, digo paterna.

O menino de Ohio entrou na escola mancando, com duas armas, como John Wayne num filme de bang-bang ou como um soldado americano no Iraque. Estava vestido todo de preto: casaco, camisa Marilyn Manson e jeans, as unhas pintadas com esmalte escuro e o pescoço cheio de cadeias estilo gótico. O primeiro disparo atingiu um colega de turma, que o havia esbofeteado após uma discussão sobre a existência de Deus. Depois, feriu outro colega e dois professores. No meio da confusão, berrou, antes de se suicidar: “EU ODEIO ESTA ESCOLA”.

Esse grito fere a nós, professores, talvez tão profundamente quanto as balas, porque evidencia nosso fracasso. A instituição na qual acreditamos, longe de ser um lugar de reflexão, de liberdade e de convivência amistosa, torna-se um espaço insuportável de opressão e de negação da alteridade. A escola que pretende uniformizar as pessoas – e a farda é apenas um símbolo disso – revela que está despreparada para lidar com a diferença. Não ensina as regras de conviver com quem é diferente. O pernetinha, o surdo, o gordão, o cara de olho puxado, o índio, o caboco e o negro são estigmatizados.

A escola, como regra geral, não educa para a diferença em nenhum país. Acontece que ela dialoga sempre com a sociedade que a abriga. Nos EUA, num sistema extremamente competitivo, a escola ‘prepara’ os alunos para serem ‘winners’ (vencedores). Não há lugar para ‘losers’ (perdedores). Os fracassados são esmagados. Há ainda um agravante: a facilidade com que até um ‘loser’ pode comprar uma arma, o que possibilita que se faça, em escala menor, aquilo que Bush faz no Iraque em proporções gigantescas, assassinando milhares de pessoas.

Sociedade-caveirão

Quem está doente não é o “Deixa-que-eu-chuto” ou o ‘Baleia Prenha’. Doente é a relação deles com a sociedade através da escola. É essa relação enferma, produto da sociedade-caveirão, que deve ser tratada. Esses conflitos em instituições de ensino dos EUA nos permitem refletir sobre o modelo de escola e o papel do professor, bem como discutir o tipo de violência que acontece num país complexo como o Brasil. Um fato ocorrido recentemente no Rio de Janeiro pode servir de ilustração.

Uma professora carioca decidiu fazer um curso universitário depois de se aposentar. Hoje ela é minha aluna na UERJ. Contou, em sala de aula, um assalto que sofreu dentro de um ônibus, na Avenida Brasil, quando voltava pra sua casa, na Baixada Fluminense. Numa parada, entraram quatro jovens. Um deles, que parecia ser o chefe, botou um revólver na cabeça do trocador e gritou: “isso é um assalto”. Um segundo menino, também com uma arma na mão, ficou apontando pro motorista, enquanto os outros dois recolhiam, numa sacola, dinheiro, celulares e jóias dos passageiros.

Quando já não havia mais o que roubar, o chefe do grupo deu ordem pro motorista parar. Mas no momento de descer, a professora aposentada o identificou como seu ex-aluno no ensino fundamental. Não se conteve e deu um grito dolorido: “Vandernilson, que decepção! Tanto trabalho pra nada!”. Provavelmente, ela era a única pessoa, além da mãe, que o chamava pelo nome de batismo. ‘Pereba’, assim ele era conhecido, ordenou aos seus parceiros: ‘Sujou! Sujou! Devolve tudo’.

Enquanto o ônibus prosseguia no seu itinerário, eles iam devolvendo os pertences de cada um. Depois, Vandernilson, o Pereba, bastante constrangido, pediu desculpas à sua ex-professora e desceu provavelmente para assaltar outro ônibus. Os passageiros aplaudiram a mestra, cujo aluno podia até não gostar da escola, mas que ainda nutria afeto e respeito por uma de suas professoras.

Na véspera do Dia do Professor, homenageamos todos os mestres que procuram respeitar a diferença. Entre eles, alguns do Instituto de Educação do Amazonas e do Ginásio Amazonense na década de 1960, que compartilharam com seus alunos o que tinham de melhor: Orígenes Martins, Carlos Eduardo Gonçalves, Mercedes Ponce de León, Nathércia Menezes, Hilda Tribuzzi, José Braga, Isis Falcone, Garcitylzo Silva, Lurdinha Telles, Stélio Lobato, Afonso Nina, Manoel Otávio, Farias de Carvalho e tantos outros, que merecem a gratidão perene de seus ex-alunos.

*José Ribamar Bessa Freire é antropólogo, natural de Manaus e assina no “Diário do Amazonas” coluna semanal tida como uma das mais lidas da região norte.Reside no Rio de Janeiro há mais de 20 anos e é professor da UERJ, onde coordena o programa “Pró-Índio”. Mantém o blogTaqui Pra Tie é colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Ler ou Copiar um Texto


O efeito de uma estrada campestre não é o mesmo quando se caminha por ela ou quando a sobrevoamos de avião. De igual modo, o efeito de um texto não é o mesmo quando ele é lido ou copiado. O passageiro do avião vê apenas como a estrada abre caminho pela paisagem, como ela se desenrola de acordo com o padrão do terreno adjacente. Somente aquele que percorre a estrada a pé se dá conta dos efeitos que ela produz e de como daquela mesma paisagem, que aos olhos de quem a sobrevoa não passa de um terreno indiferenciado, afloram distâncias, belvederes, clareiras, perspectivas a cada nova curva [...].

Apenas o texto copiado produz esse poderoso efeito na alma daquele que dele se ocupa, ao passo que o mero leitor jamais descobre os novos aspectos do seu ser profundo que são abertos pelo texto como uma estrada talhada na sua floresta interior, sempre a fechar-se atrás de si. Pois o leitor segue os movimentos de sua mente no vôo livre do devaneio, ao passo que o copiador os submete ao seu comando. A prática chinesa de copiar livros era assim uma incomparável garantia de cultura literária, e a arte de fazer transcrições, uma chave para os enigmas da China.
Walter Benjamin, in 'Rua de Sentido Único'

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Título e Diplomas

Títulos e Diplomas

Parece que a humanidade só se esforça enquanto tem a esperar diplomas idiotas, que pode exibir em público para obter proveitos, mas, quando já tem na mão tais diplomas idiotas em número suficiente, deixa-se levar. Ela vive em grande parte só para obter diplomas e títulos, não por qualquer outra razão, e, depois de ter obtido o número de diplomas e títulos que, na sua opinião, é suficiente, deixa-se cair na cama macia desses diplomas e títulos. Ela não parece ter qualquer outro objectivo para a vida. Não tem, segundo parece, qualquer interesse numa vida própria, independente, numa existência própria, independente, mas apenas nesses diplomas e títulos, sob os quais a humanidade há já séculos ameaça sufocar.

As pessoas não procuram independência e autonomia, não procuram a sua própria evolução natural, mas apenas esses diplomas e títulos e estariam, a todo o momento, prontas a morrer por esses diplomas e títulos, se lhos entregassem e dessem sem qualquer condição, esta é que é a verdade desmascaradora e deprimente. Tão pouco estimam elas a vida em si que só vêem os diplomas e títulos e nada mais. Elas penduram nas paredes das suas casas os diplomas e títulos, nas casas dos mestres talhantes e dos filósofos, dos chefes cozinheiros e dos advogados e juízes estão pendurados os diplomas e títulos e eles fitam esses seus diplomas e títulos, durante toda a vida, com os olhos ávidos que adquiriram ao olhar com essa ávida fixidez permanente esses diplomas e títulos. As pessoas não dizem, no fundo, sobre si próprias, eu sou a pessoa tal e tal, mas sim eu sou o título tal e tal, eu sou o diploma tal e tal. E as suas relações não são com a pessoa tal e tal, mas sim com o diploma tal e tal e com o título tal e tal. Assim, podemos dizer perfeitamente que, na humanidade, não são as pessoas que convivem umas com as outras, mas apenas os diplomas e títulos, as pessoas são, na humanidade, dito de uma forma grosseira, indiferentes, importantes são apenas os títulos e diplomas. Não são as pessoas que, há séculos, são vistas, mas apenas títulos e diplomas. Elas não encontram no café o senhor Huber, mas sim o doutor Huber, não vão jantar com o senhor Maier, mas sim com o engenheiro do mesmo nome. Parece que só assim atingiram o seu objectivo, quando já não são a pessoa, mas sim o engenheiro, quando já não são, como julgam, apenas a senhora Muller, mas sim a senhora juíza. E, nos seus escritórios, também não recebem a senhora, mas sim o excelente diploma. É certo que esta mania dos diplomas e dos títulos está espalhada por toda a Europa, mas foi, sem dúvida, na Alemanha e sobretudo na Áustria que ela atingiu um grau de monstruosidade e grotesco que se tornou aterrador.

Thomas Bernhard, in 'Extinção'