terça-feira, 30 de julho de 2013

O choro de Cabral e o choro de Amarildo - Lúcio de Castro




Lúcio de Castro

Lúcio é carioca, formado em História e Jornalismo, e hoje trabalha como repórter da ESPN Brasil e comentarista do Bate-Bola 1ª edição
30/07/2013

O choro de Cabral e o choro de Amarildo

"Não me dão pena os burgueses
vencidos. E quando penso que vão me dar pena,
aperto bem os dentes e fecho bem os olhos.
Penso em meus longos dias sem sapatos nem rosas.
Penso em meus longos dias sem abrigos nem nuvens.
Penso em meus longos dias sem camisas nem sonhos.
Penso em meus longos dias com minha pele proibida.
Penso em meus longos dias
".

("Burgueses", de Nicolás Guillén)


Nicolás Guillén é um poeta maior. Poeta e revolucionário. Quando essas duas coisas se juntam numa só pessoa, virtudes das mais nobres entre as outras, temos aqueles raros: os imprescindíveis. Teoria e prática, intelectuais e homens de ação...Guillén, Ernesto Cardenal, Marti... Pensei muito em Guillén na tarde dessa segunda-feira. Perseguido tantas vezes na ditadura de Fulgêncio Baptista, voltou para Cuba depois da saída do tirano. E quando alguns de seus algozes foram presos, perguntaram a ele o que sentia. Respondeu com o poema "Burgueses", (com trecho acima reproduzido).

Lembrei-me de Guillén ao ver o governador do Rio acuado, em tom choroso, pedindo ternamente, feito um menino indefeso, que os manifestantes deixassem de fazer seu legítimo protesto próximo a casa dele. Não teve o pudor em poupar o nome e a idade dos filhos para alcançar seu intento. Já não tivera pudor para botar os filhos no helicóptero do amigo empreiteiro da Delta. Mas crianças são crianças e sempre nos tocam. Por algum momento, tal qual o poeta, pensei que iam me dar pena. Por algum momento, pensei em considerar seus argumentos.

Mas tal qual o poeta, apertei bem os dentes e fechei bem os olhos. Pensei nos filhos de Amarildo, o pedreiro da Rocinha que sumiu depois de ser visto pela última vez nas mãos dos servidores de Cabral, símbolos da política de segurança do governador. Tal qual o poeta, pensei nos longos dias da mulher e dos filhos de Amarildo. Sem camisa nem sonho, com a pele proibida...São tantos Amarildos nesse Brasil onde pobres não tem sapatos nem rosas nem tampouco direitos. Muitos no Rio de Cabral, que nunca pensou no filho de nenhum deles.

Tal qual o poeta, pensei nos longos dias das famílias da Maré, dos trabalhadores assassinados sem qualquer razão. Cabral ainda não falou sobre eles...Poderia lembrar de tantos outros como os da Maré...Pensei nos longos dias das pessoas vítimas de crimes forjados, prática tão comum por aqui, mais ainda com a política de Cabral.

Pensei nos meninos da Escola Friedenreich. Alguém há de me lembrar que ela é municipal. Não esqueci. Mas está saindo para que o governador melhor sirva seus amigos que ganharam o Maracanã. Tal qual o poeta, pensei nos longos dias sem abrigo nem nuvens daqueles meninos. Alunos de uma escola de excelência, forjaram ouro no meio do nada. Imaginem o trauma desses meninos quando souberam que iam sair dali. Cabral pensou neles?

Pensei de novo nos versos citados do poeta, dos dias sem abrigo nem nuvens (que imagem!) das vítimas das remoções criminosas de todos aqueles que estão no caminho dos "grandes eventos". Quão longos e traumáticos devem ser os dias dos meninos que tem um "X" desenhado na porta da casa humilde indicando que ela será posta abaixo. Cabral pensou neles? Alguém novamente lembrará que muitas dessas remoções são municipais. A força que dá o pé na porta é estadual. E afinal, seria ser muito idiota da objetividade achar que @sergiocabralrj e @eduardopaes_ são tão diferentes assim.

Pensei nos longos dias dos meninos que iam pelos braços dos pais na geral do Maracanã. Viam o jogo na carcunda dos pais, naquele ritual que todo homem sonha, o rito da passagem. Agora exclusivo dos que podem pagar o setor vip. Do Maracanã ferida que não fecha, como definiu tão bem Pedro Motta Gueiros. Destruído por Cabral rasgando a lei. Destruído com aval do IPHAN na calada da noite, como agem aqueles que não são transparentes. Ele mesmo que agora diz não ser um ditador. Ele mesmo que publicou o decreto 44.302/2013, da CEIV, Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas, que rasgava a constituição. Quem rasga a constituição é o que? O governador de tantos atos de exceção.

Por sorte, a sociedade civil e todos seus instrumentos se fizeram representar e vem forçando essa recuada do ditador que sonhou ser, acuado, patético como todo ditador acuado. Espécie de Sadam Hussein no buraco, Kadafi na manilha. Ele, Cabral, desnudo em sua patética biografia que vai se desmilinguindo. Que há poucos dias tirou os mesmos manifestantes debaixo de pauladas e gases, sem pensar nos filhos deles, na calada da noite. Agora, na fragilidade do buraco e da manilha onde os ditadores se esvaem, apela para um discurso emocional.

Mesmo pensando em nossos longos dias, não deixaremos de pensar em duas crianças. Que não pediram isso. Oxalá possam lá na frente superar o trauma do pai ter deixado tal obra. Realmente elas nada tem a ver com tudo isso. Não precisam ver que na esquina do pai deles falam um monte de verdades sobre ele. Ainda bem que tem a opção nesses dias de sair dali. Ir por um tempo para o Palácio das Laranjeiras. Ou quem sabe para a Mansão de Guaratiba. Talvez não dê mais para ir de helicóptero, abateram o governador-voador, o do reino do guardanapo, em plena farra aérea. Mas ainda dá para passar uma temporada longe dos protestos na mansão comprada com o suor do trabalho do pai deles. Desejo isso do fundo do coração. Crianças não tem mesmo que passar por isso.

Lamento apenas que os filhos do Amarildo não tenham palácios ou mansões pra onde correr. Lamento apenas que os filhos da Maré não tenham para onde correr. Lamento apenas que os meninos que iam na carcunda do pai na geral do Maracanã não tenham para onde correr. Lamento apenas que os filhos dos removidos não tenham para onde correr. E então, "quando penso que vão me dar pena, aperto bem os dentes e fecho bem os olhos". Pela certeza de que os acampamentos seguirão. Até que se preste conta de tudo. E para que se saiba que foi longe demais na farra.



Ps- se botar um pouquinho a cabeça para fora do buraco ou da manilha, o governador vai ver que as pessoas passam pelos acampados buzinando, abrindo a janela dos carros, gritando palavras de força. Para aqueles acampados pacificamente, vale dizer. E que os vizinhos, que poderiam estar incomodados, levam refeições, agasalhos. Pelo menos se pouparia de perder tanto tempo pensando em teorias da conspiração, manipuladores. É apenas a conta de tanto desmando que chegou. É aquela turma da "pele proibida" que veio cobrar a conta.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

jatinhos II


PROGRAMA MINHA MANSÃO, MINHA SONEGAÇÃO

O PARAÍ$O FI$CAL BRA$ILEIRO: ONDE $E REALIZAM ‘GRANDE$ NEGÓCIO$’

Angra dos Reis

Com 365 ilhas e 2.000 praias, o município é o paraíso de endinheirados de todo o Brasil.

No passeio de barco pela baía da Ilha Grande, podem-se ver diversos casarões em praias particulares, além de píeres para a atracação de lanchas e iates.

São mansões de personalidades como o ex-presidente da Rede Globo, Roberto Marinho, e o ex-presidente da Fifa, João Havelange.

Ainda podem-se avistar diversas ilhas particulares como a Ilha do Porco Pequeno, que pertence ao filho de Roberto Marinho,

e a do Porco Grande, que pertence ao cirurgião plástico Ivo Pitanguy. Uma das primeiras personalidades a frequentar a região, é dono da Ilha desde a década de 70.
Esta é uma das maiores ilhas de Angra, menor apenas que a ilha da Gipoia e a Ilha Grande.
Nela há uma pista com 150 metros para o pouso de pequenos aviões.

Sua propriedade fica em frente a outro santuário particular, pertencente à família Marinho, das Organizações Globo.

A poucos minutos de lancha está a Ilha da Gipoia, a segunda maior do município, onde há quarenta anos o executivo de TV José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, tem uma casa equipada com uma adega com 3 000 garrafas de vinhos de primeira grandeza.
Ele costuma chegar de helicóptero e reunir convivas em torno de churrascos e paellas.

Entre seus vizinhos estão o dentista Olympio Faissol e o livreiro Roberto Feith, cada um deles com seu feudo insular.

O apresentador Luciano Huck vai de helicóptero do Rio à Ilha Grande apenas para correr sobre as areias da deslumbrante Praia de Lopes Mendes.

Na Ponta do Tanguá, os hóspedes do empresário Alexandre Accioly (http://bit.ly/1bAuHDb) exercitam-se numa filial da A!Body Tech instalada na mansão de onze suítes.

A turma que tem um paraíso para chamar de seu ganhou, há alguns anos, um novo membro: o empresário mineiro do ramo da construção civil Henrique Pinto (http://bit.ly/13MbZ2h).

O dono da Ilha do Arroz, cobriu a vegetação da ilha com carpete para receber convidados, no réveillon.
Não à toa, o réveillon do construtor mineiro, regado a champanhe e uísque 12 anos, foi o mais comentado do fim de ano em Angra.
Fincado na Ilha do Arroz, o casarão de doze suítes, com quadra de tênis, pista de corrida e heliponto, está sempre cheio.
Henrique, que costuma chegar ali pilotando o helicóptero de sua empresa – a construtora Tenda – sempre promove um campeonato de tênis na ilha.
O empresário mineiro, radicado em São Paulo, é hoje um dos mais conhecidos festeiros de Angra.

“Henrique dá as festas mais animadas. Hamilton Padilha (empresário baiano), as mais produzidas. E Accioly, as mais prestigiadas”, diz a promoter Isabela Menezes.

A mansão da Ilha do Arroz é ponto de encontro não só de vips nacionais, mas de ricaços de várias partes do mundo. “Neste ano, o Hotel Pestana está praticamente lotado por um grupo que veio de Londres para a festa”, contava Henrique às vésperas do réveillon.

Angra, aliás, entrou definitivamente no circuito da badalação mundial.

Nos últimos verões navegaram por lá os atores Matt Dillon, Jean-Claude van Damme e Dan Aykroyd, os bilionários Athina Onassis e Paul Allen, sócio de Bill Gates, e, nos últimos dias, Safir Kadafi, filho do líder líbio Muammar Kadafi, que participou do almoço promovido pela socialite paulista Ana Paula Junqueira, no dia 30, na ilha dos Pitanguy.
Os estrangeiros ficam maravilhados”, diz o construtor Rogério Jonas Zylbersztajn, dono da RJZ e proprietário de uma casa na região.

Um dos casarões que mais recebem gringos no circuito de Angra é o do ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia.
Seus filhos, Leonardo e Erika, dona de uma multimarcas de luxo em Minas Gerais, se incumbem de apresentar aos visitantes os encantos da Costa Verde fluminense. Que não são poucos.

“Angra é o Caribe brasileiro”, garante Manoel Francisco de Oliveira, presidente da Fundação de Turismo da cidade.

O roteiro imperdível de Angra inclui necessariamente a Ilha Grande, especialmente a Praia de Lopes Mendes – considerada uma das mais bonitas do Brasil – e a enseada do Saco do Céu.

O lugar abriga um dos mais requintados restaurantes de Angra: o Reis e Magos.

De frente para o mar e cercadas pelo verde, mesas cobertas por toalhas de renda branca e delicados arranjos de flores compõem um cenário romântico, com música suave e cardápio elaborado.
Tudo isso tem seu preço.
A paella, estrela do menu, custa 136 reais.
O prato serve duas pessoas, que fique claro.

O Reis e Magos é um dos poucos restaurantes que agradam a paladares tão apurados quanto o de Boni, Ivo Pitanguy e do governador mineiro Aécio Neves, outro habitué de Angra.

O Morro do Coco, no condomínio Porto Frade, também atrai os gourmets mais exigentes. A localização é um dos trunfos. Fincado há catorze anos no alto de um morro, entre jardins, piscina e campo de golfe, o restaurante tem vista privilegiada.
É no Frade, também, que está o charmoso bistrô francês Chez Dominique, um dos favoritos do casal Huck e Angélica. Accioly gosta da pizzaria Beira do Cais, que fica na marina do condomínio e lota no fim da tarde.
Mas nada se compara à badalação da Praia do Dentista, na Ilha da Gipóia.

Nos dias de pico, são tantos os barcos que mal se vê a cor da água.

“Os amigos vão amarrando uma lancha na outra, cada um coloca uma música no barco e vira uma festa”, conta o empresário Rick Amaral.
O Dentista é lugar para ver e ser visto.
Barcos enormes, corpos bronzeados, caipirinha e muita mordomia.
Os veranistas são servidos nas próprias lanchas por garçons que chegam em barquinhos, trazendo drinques e petiscos.
Os mais elogiados são os do Jango’s – um colorido barco-bar que já faz parte da paisagem.
A propósito: a praia se chama Jurubaíba, mas ganhou o apelido porque é ali que o dentista Olympio Faissol mantém uma casa há vários anos.
“Já tive a fase de chegar lá de manhã e não querer sair”, diverte-se Daniella Sarahyba, 21 anos, freqüentadora de Angra desde os 6.
Hoje, ao lado do namorado, Wolff Klabin, ela prefere cenários mais calmos, como as praias da Ilha Grande.
“Aqui, para mim, é paz de espírito”, diz.
A nutricionista Bia Rique, que mantém uma confortável casa em Angra há nove anos, concorda:
“Você se transporta para outro estilo de vida, em contato com a natureza. Adoro fazer trilhas na Ilha Grande e sair de lancha descobrindo praias diferentes”, conta.

É impossível explorar os encantos de Angra sem um barco, o principal meio de transporte da turma.

“A gente toma café, sai de lancha e só volta no fim do dia. O melhor da região está no mar”, explica Accioly, que tem entre seus hóspedes o governador Aécio Neves e o casal Álvaro Garnero e Caroline Bittencourt.

O segundo meio de transporte mais usado é o helicóptero.

“No fim do ano tem tanto helicóptero no céu que parece a Guerra do Vietnã… ou do Iraque”, brinca Henrique Pinto.

Carro pode ser absolutamente dispensável. Até para fazer compras.

“É a única cidade brasileira em que se vai ao supermercado de lancha ou de helicóptero”, diz o presidente da Fundação de Turismo de Angra, referindo-se à filial do Zona Sul, que tem deque e heliponto.

Além do automóvel, quando se trata de Angra, até a casa pode ser dispensável.

Nelson Piquet, por exemplo, possui quartos confortáveis, helicóptero a bordo e todo o luxo de que um veranista precisa em seu megaiate, o Pilar Rossi, de 150 pés.

O resort flutuante pode ser visto, freqüentemente, diante da belíssima propriedade do amigo Luciano Huck, na Ilha das Palmeiras.

Um dos últimos projetos de Claudio Bernardes, que morreu em 2001, a casa, que tem requintes como uma piscina que adentra a sala e paredes de vidro, foi concluída pelo filho do arquiteto, Thiago.
O apresentador é um dos mais elogiados anfitriões de Angra.

O jovem empresário Zé Luca Magalhães Lins, dono da academia Pró Forma, chega a dispensar a casa da família para ficar com Huck e Angélica.
“É o melhor hotel da América do Sul”, diverte-se.

Até o príncipe Andrew, da Inglaterra, já se hospedou ali.
“Em todo o planeta, é o lugar onde me sinto melhor”, diz Huck.

Apaixonado por Angra, ele deu um jeito de levar também os negócios para lá.

Há dois anos mantém com os amigos Acciolly, Luis André Calainho e Marcos Buaiz o projeto Arroz – um ponto de encontro na Ilha de Itanhangá que reúne restaurantes, DJs, shows e um mini-spa.

(http://vejario.abril.com.br/edicao-da-semana/ilhas-a-venda-no-litoral-do-rio-730142.shtml)
(http://veja.abril.com.br/vejarj/110106/capa.html)
(http://www.jornaldaorla.com.br/materias/8241-angra-dos-reis)
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Curiosidades*

Angra dos Reis engloba 2.000 praias e 365 ilhas.
A Ilha Grande é a maior delas, seguida da Gipóia.

Uma casa ali chega a custar 10 milhões de euros – valor que, corre à boca pequena, foi pago [por Ronaldinho Gaúcho] pela mansão que pertencia a Roberto Marinho.

O município tem apenas 140.345 moradores.
Somando veranistas e turistas ocasionais, a população aumenta mais de 150% no verão.

A cidade fica a 168 quilômetros de distância – ou a 2 horas e meia de carro – do Rio.
De helicóptero, são pouco mais de 20 minutos.

No auge do verão, há mais barcos do que carros em Angra dos Reis.

Metade de todas as lanchas produzidas no Brasil pela Intermarine, líder de mercado em lanchas de lazer, destina-se ao mar de Angra.

Helicóptero, jatinho particular e lanchas não pagam IPVA no BraZil.
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Leia também:

*Projeto pode instituir IPVA para embarcações e aeronaves
(http://www.sindifisconacional.org.br/impostojusto/?saibamais=imposto-justo-tributara-lanchas-e-jatinhos-particulares)

(http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2013/04/familias-mais-pobres-pagam-mais-impostos-modelo-mantem-concentracao-de-renda)

*Propostas para melhorar o sistema tributário no BraSil:

1) Aumentar a transparência sobre a tributação.

2) Tributar os bens supérfluos e de luxo.

3) Corrigir a tabela do Imposto de Renda e aumentar a sua progressividade.

4) Tributar os lucros e dividendos distribuídos por grandes corporações econômicas.

5) Melhorar a cobrança do imposto sobre herança e doações.

6) Aumentar os impostos sobre a propriedade da terra (ITR).

7) Tributação sobre a remessa de lucros ao exterior.

8) Cobrar IPVA sobre embarcações e aeronaves.

9) Instituir o imposto sobre grandes fortunas.

10) Penalizar judicialmente os sonegadores por prática de crime contra a ordem tributária, independentemente de eventual pagamento integral ou parcelamento dos débitos fiscais e previdenciários junto à Receita Federal.

(http://www.sindifisconacional.org.br/impostojusto/mais-impostos-para-os-ricos-e-menos-para-os-pobres)

jatinhos, lanchas e helicópteros são isentos de IPVA I


Pedro Delarue: Rico paga menos imposto no Brasil; jatinhos, lanchas e helicópteros são isentos de IPVA; Refis incentiva a sonegação


Quanto o jatinho de Eike Batista pagou de Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA)? Zero.

por Luiz Carlos Azenha

Pedro Delarue Tolentino Filho é presidente do Sindifisco, o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil.

No 11 de julho, o Sindifisco se juntou a milhares de outros brasileiros que se manifestaram nas ruas, mas com uma pauta bem específica: por imposto justo (clique para conhecer a campanha).

O assunto é de grande atualidade. Os brasileiros tem exigido melhores serviços públicos na saúde, educação, transportes…

Isso custa dinheiro. A pergunta é: quem vai bancar os investimentos?

Hoje, Pedro sabe quem paga a conta. Desproporcionalmente, os mais pobres, que pagam os impostos embutidos nos produtos de consumo diário. E, sim, a classe média, que além de descontar o imposto de Renda na fonte e pagar os impostos do consumo, assume papel desproporcional no financiamento dos programas sociais.

Mas, por quê?

Porque os ricos pagam muito menos impostos do que deveriam. Motivos?

* Por causa de uma interpretação legal (que Pedro explica na entrevista abaixo), jatinhos, helicópteros e lanchas não pagam IPVA, o imposto sobre a propriedade de veículos automotores, embora todos sejam dotados de motores — por sinal, muito mais potentes que aqueles que empurram Fuscas e motocicletas pagantes de IPVA;

* O imposto sobre fortunas, previsto na Constituição de 1988, jamais foi regulamentado;

* Por causa das remessas de dinheiro para refúgios fiscais (o Sindifisco tem atuado contra projetos em andamento no Congresso que oferecem benefícios a quem trouxer o dinheiro de volta, premiando a sonegação);

* Por causa do chamado “planejamento tributário”, nome pomposo que se dá à tarefa de batalhões de advogados que procuram brechas nas leis para reduzir o pagamento de imposto — quando simplesmente não escrevem as leis em nome dos legisladores;

* Porque empresários ficaram isentos de pagar imposto sobre lucros e dividendos distribuídos, pela lei 9.249, de 26 de dezembro de 1995, sancionada durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

* Porque programas como o Refis — Programa de Recuperação Fiscal da própria Receita — acabam funcionando, na opinião do Sindifisco, como incentivo à sonegação.

O presidente do Sindifisco diz que qualquer estimativa sobre o montante sonegado todos os anos no Brasil é chute. Aponta para o cálculo do Sonegômetro, criado pelo Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), que indica que a dívida acumulada a receber, pela Fazenda, é hoje superior a R$ 232 bilhões.

Resumo da entrevista: “No Brasil se tributa muito o consumo e muito pouco a renda e o patrimônio. Como a população em geral entende que o sistema tributário é muito complicado, é muito complexo… o que eu costumo dizer é que para cada milhão de pessoas que não conhecem os seus direitos, tem uma meia dúzia de pessoas que conhecem esses direitos muito bem e têm influência para legislar sobre leis que lhes são favoráveis, em prejuízo da maioria da população”.




domingo, 21 de julho de 2013

Ser doutor é mais fácil do que se tornar médico - revista época



Ser doutor é mais fácil do que se tornar médico
A resistência ao projeto que obrigará os estudantes de medicina a trabalhar dois anos no SUS expõe a fratura social do Brasil
ELIANE BRUM
15/07/2013 10h26 - Atualizado em 15/07/2013 13h16


O programa “Mais Médicos”, lançado pela presidente Dilma Rousseff, não vai resolver o problema do Sistema Único de Saúde (SUS). Mas pode, sim, ser parte da solução. Ou alguém realmente acredita que colocar mais médicos nos lugares carentes do Brasil pode fazer mal para a população? Sério que, de boa fé, alguém acredita nisso? A veemência dos protestos contra o projeto de ampliar o curso de medicina de seis para oito anos e tornar esses dois últimos anos um trabalho remunerado para o SUS revela muito. Especialmente o quanto é abissal a fratura social no Brasil. E o quanto a parte mais rica é cega para a possibilidade de fazer a sua parte para diminuir uma desigualdade que deveria nos envergonhar todos os dias – e que, no caso da saúde, mata os mais frágeis e os mais pobres.


Para resolver o problema do SUS é preciso assumir, de fato, o compromisso com a saúde pública gratuita e universal. O que significa investir muito mais recursos. Em 2011, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil gastou US$ 477 per capita em saúde. Menos do que vizinhos como Uruguai (US$ 817,8) e Argentina (US$ 869,4), por exemplo. E quase seis vezes menos do que o Reino Unido (US$ 2.747), cujo sistema de saúde tem sido apresentado como referência do projeto do governo. Hoje, falta dinheiro e falta gestão eficiente. Sem dinheiro e sem eficiência, duas obviedades, não se constrói um sistema decente. Mas, para investir mais dinheiro no SUS, é preciso tocar também em questões sensíveis, como o financiamento da saúde privada. Falta dinheiro no SUS também – mas não só – porque o Estado tem subsidiado a saúde dos mais ricos via renúncia fiscal.

Um recente estudo do IPEA (leia aqui) mostrou que, em 2011, último ano avaliado, quase R$ 16 bilhões de reais deixaram de ser arrecadados pelo governo, por dedução no imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas e desoneração fiscal da indústria farmacêutica e de hospitais filantrópicos. O que é, de fato, renúncia fiscal? Um pagamento feito pelo Estado: ele não desembolsa, mas paga, ao deixar de receber. Assim, quase R$ 16 bilhões, o equivalente a 22,5% do gasto público federal em saúde, deixaram de ser investidos no SUS para serem transferidos para o setor privado, numa espécie de distribuição de renda para o topo da pirâmide. Para ter uma ideia do impacto, é mais do que os R$ 13 bilhões que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirma que o governo está investindo em unidades básicas de saúde, pronto-atendimento e hospitais. Não é a toa que, entre 2003 e 2011, o faturamento do mercado dos planos de saúde quase dobrou e o lucro líquido cresceu mais de duas vezes e meia acima da inflação.

O governo tem estimulado a população – e também os empregadores – a investir em saúde privada. Um plano de saúde privado tornou-se uma marca de ascensão social. A “classe C” ou “nova classe média” tem sido vítima de planos de saúde mequetrefes que, na hora de maior necessidade, deixam as pessoas desprotegidas. Como muitos já sentiram na pele, quando a coisa realmente aperta, quando a doença é séria e requer recursos e intervenções de ponta, quem vai resolver não é a rede privada, mas o SUS, porque uma parte significativa dos planos não cobre os exames e tratamentos mais caros.

Para que a solução seja estrutural – e não cosmética – é preciso acabar com as distorções e fortalecer o SUS. Sem dinheiro, o SUS vai sendo sucateado e se torna o destino apenas dos mais pobres e com menos instrumentos para reivindicar seus direitos. Assustada com a precarização do SUS, a classe média se sacrifica para pagar um plano privado, que tem sempre muitas letras miúdas. Os trabalhadores organizados incluem saúde privada na pauta sindical, afastando-se da luta do SUS. Quem tem mais poder de pressão para pressionar o Estado por saúde pública de qualidade, portanto, encontra saídas individuais – que muitas vezes vão se mostrar pífias na hora da urgência – ou saídas coletivas, mas para grupos específicos, no caso dos empregados com planos empresariais.

Enquanto sobrar distorções e faltar dinheiro, o SUS não vai melhorar. Não vai mesmo. Neste sentido, tem razão quem afirma que o programa “Mais Médicos” é demagogia. Mas apenas em parte.

Acrescentar dois anos ao curso de medicina e tornar esses dois últimos anos um trabalho remunerado no SUS, uma das mudanças previstas para iniciar em 2015, pode ser um aprendizado. E rico. Não só da prática médica como da realidade do país e da sua população, o que não pode fazer mal a alguém que pretenda ser um bom médico. Para que isso funcione, tanto como formação quanto como atendimento de qualidade à população, é preciso que exista de fato a supervisão dos professores e das faculdades. E essa é uma boa causa para as entidades corporativas e para as escolas de medicina.

Hoje, um dos problemas do SUS é a fragilidade da atenção básica: o que poderia ser resolvido nos postos de saúde ou pelo médico de família e que consiste em cerca de 90% dos casos acaba indo sobrecarregar os hospitais, que deveriam ser acionados apenas para os casos mais graves. A distorção provoca problemas de atendimento de uma ponta a outra do sistema. Por outro lado, entre os avanços mais significativos do SUS está o Programa Saúde da Família (PSF), um dos principais responsáveis, junto com o Bolsa Família, pela redução da mortalidade infantil no país. Mas faltam médicos para esse programa. A atuação dos estudantes de medicina poderá fazer uma enorme diferença. E isso não é pouco num país em que os filhos dos pobres ainda morrem de diarreia e de doenças já erradicadas nos países desenvolvidos.

A obrigatoriedade de trabalhar dois anos no SUS tem sido considerada por alguns setores, como as entidades corporativas, uma violação dos direitos individuais do estudante de medicina. Será que não poderia ser vista, além de um aprendizado, também como uma contrapartida, especialmente para quem estudou em universidades públicas ou foi beneficiado com bolsas do Prouni? O Estado, o que equivale a dizer toda a população brasileira, incluindo os que hoje não têm acesso à saúde pela precariedade do SUS, financia os estudos desses estudantes. Não seria lógico e mesmo ético que, ao final do curso, os estudantes devolvessem uma mínima parte desse investimento à sociedade? Para os estudantes das escolas privadas, o projeto prevê a liberação do pagamento das mensalidades nestes dois últimos anos. Mas sempre vale a pena lembrar que também há financiamento público das particulares, na forma de uma série de mecanismos, como renúncia fiscal para as filantrópicas e para as que aderiram ao Prouni.

Os estudantes de medicina serão remunerados pelo trabalho e pelo aprendizado. O valor mensal da bolsa ainda não está definido, mas a imprensa divulgou que será algo entre R$ 3 mil e R$ 8 mil. Ainda que seja o menor valor, que outra categoria no Brasil pode sonhar em ganhar isso antes mesmo de se formar? E mesmo depois de formado? Por que, então, uma resistência tão grande?

Por causa do abismo. A maioria dos estudantes de medicina vem das classes mais abastadas, como mostrou a Folha de S. Paulo de 13/7: na Unesp (Universidade Estadual Paulista), apenas 2% cursaram colégio público, contra 40% no geral; na USP (Universidade de São Paulo), 20% dos estudantes têm renda familiar superior a R$ 20 mil, não há negros na turma que ingressou em 2013. Historicamente, a elite brasileira não se vê como parte da construção de um país mais igualitário. Pelos motivos óbvios – e porque está acostumada a receber, não a dar. Assim, ter seus estudos financiados pelo conjunto da população brasileira é interpretado como parte dos seus direitos – não como algo que pressupõe também um dever ou uma contrapartida. Dever e contrapartida, como se sabe, são para os outros.

Não fosse esse olhar sobre si e sobre seu lugar no país, seria plausível que trabalhar os dois últimos anos do curso no SUS pudesse ser uma boa notícia para quem escolheu ser médico. Fosse até desejável. Primeiro, porque está ajudando a levar saúde a uma população que não tem. E, neste sentido, pode fazer a diferença, algumas vezes entre viver e morrer. Segundo, por participar da construção de um país mais justo, o que implica deveres ainda maiores a quem recebeu mais. Receber mais – melhores escolas, melhor saúde, melhores oportunidades – não significa que tenha de continuar recebendo mais, mas que precisa dar mais, já que a responsabilidade com quem recebeu menos se torna ainda maior. Terceiro, porque é inestimável a oportunidade de conhecer as dores, as necessidades e as aspirações das porções mais carentes do Brasil, não só pelo aprendizado médico em si, mas pelo que essa população pode ensinar sobre um outro viver.

Tornar-se médico – e não apenas um técnico em medicina – não passa pela capacidade de escutar o outro como alguém que tem algo a dizer não apenas sobre seus sintomas, mas sobre uma visão de mundo singular e uma interpretação complexa da vida?

Ao ler a maioria das críticas sobre o programa, o que chama a atenção é a impossibilidade de seus autores se verem como parte da construção de um SUS mais forte e eficiente, o que significa ser parte da construção de um Brasil melhor para todos – e não só para uma minoria. No geral, o que se revela nitidamente é um olhar de fora, como se tudo tivesse que estar pronto, em perfeitas condições, para que só então o médico atuasse. Mas é no embate cotidiano, no reconhecimento das carências e na pressão por mudanças que o SUS será fortalecido, como tem mostrado em sua prática uma parcela dos médicos tachada – às vezes pejorativamente – como idealista. Nesse sentido, também os estudantes de medicina e seus professores farão uma enorme diferença ao estar no palco onde esse embate é travado. Ao estar presentes – promovendo saúde, denunciando distorções e pressionando por qualidade – mais do que hoje.

Acredito que a vida da maioria só muda quando os Brasis se aproximam e se misturam. Tenho esperança de que esse programa – se bem executado, o que só pode acontecer com a adesão e o compromisso de todos os envolvidos – possa ser inscrito nesse gesto. O conjunto de medidas do “Mais médicos”, que inclui também a atuação de profissionais estrangeiros em áreas carentes, já promoveu pelo menos um impacto positivo: colocou o SUS no centro da pauta nacional. Seria tão importante que os protagonistas desse debate superassem a polarização inicial entre governo e entidades médicas para fazer uma discussão séria, com a participação da população, que pudesse resultar no acesso real da maioria a um sistema de saúde com qualidade. E seria uma pena que essa oportunidade fosse perdida por interesses imediatos e menos nobres, tanto de um lado quanto de outro.

É grande o debate sobre se faltam profissionais ou se eles estão mal distribuídos. O que me parece é que não faltam doutores no Brasil – o que falta são médicos. São muitos os doutores que ainda nem sequer se formaram, mas já assumiram o título e o encarnam num sentido profundo. O SUS terá mais chance quando existirem menos doutores e mais médicos trilhando o mapa do Brasil.

(Eliane Brum escreve às segundas-feiras.)

sábado, 20 de julho de 2013

Escreva Lola Escreva: AMANDA PALMER ENSINA A COMO SE COMPORTAR

Escreva Lola Escreva: AMANDA PALMER ENSINA A COMO SE COMPORTAR: Quando digo, como disse nesta entrevista que saiu ontem na TPM, que vocês me ensinam algo novo a cada semana, não estou exagerando.  ...

Os Inocentes do Leblon bsc



Os Inocentes do Leblon

Publicado em 20 de julho de 2013 por repimlins



Foi no Leblon. E, como previsto, parou tudo. Quebraram lojas no Leblon. Vitrines. No Leblon de Manoel Carlos. Quebraram.

Parou tudo e o governador acusou “organismos internacionais” de estarem organizando as manifestações. Anunciou a criação da comissão com o nome mais ridículo que eu já vi na vida: a “Comissão Especial de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas”, para a qual minha irmã sugeriu a singela sigla COMESINAVANMANPU. Porque só o riso salva, se o papa deixar.

Tem gente defendendo. Falando dos empresários trabalhadores, batalhadores, que construíram o patrimônio à custa do suor do seu rosto. E blá-blá-blá. Aí paro eu. Paro porque não dá pra falar disso assim, descontextualizado. É Rio, amigo. O Rio onde a polícia anda barbarizando há tantas semanas. Brincando de jogar gás lacrimogêneo, prendendo gente a torto e a direito. No Leblon mesmo, naquele dia, prenderam um grupo, forjaram provas, quiseram indiciar por formação de quadrilha gente que nem se conhecia. Que tava fugindo da polícia que barbarizava. O Rafucko conta essa história com palavras e imagens, aqui.

E isso foi no Leblon. Naquele dia, naquele mesmo dia. No mesmo dia, a Rocinha fazia manifestação protestando contra o desaparecimento de um morador, o pedreiro Amarildo Dias de Souza. Segundo sua mulher, ele foi levado à UPP para “prestar esclarecimentos”. E nunca voltou.

Antes disso, teve pancadaria durante a Copa das Confederações. Teve pancadaria no Centro, teve pancadaria nas Laranjeiras, com direito a gás lacrimogêneo em hospitais (vários), ao apagar de luzes no momento da ação policial violenta, realizada por indivíduos muitas vezes sem identificação. Os relatos tão aí, é só procurar, a Mídia Ninja fez coberturas de todos esses eventos.

Mais importante do que isso tudo: teve a Maré. Teve os mortos da Maré (dez? doze?), a chacina da Maré. Os mortos da Maré, os feridos da Maré, as casas invadidas da Maré, o medo da Maré.

E nenhuma fala, de nenhum dos nossos governantes, nem do Secretário de Segurança, para reconhecer a violência policial desmedida. Para dizer que ia coibir os abusos, para investigar quem matou na Maré. Pra tomar o pulso disso tudo de dizer que isso tem que parar. Muito pelo contrário: as declarações do Secretário de Segurança Mariano Beltrame sobre a chacina da Maré dão vontade de chorar. “Infelizmente encontramos uma situação de conflito na Maré, onde o Estado foi atacado e reagiu”, disse ele. E mais: “Não houve qualquer reação à manifestação: a polícia agiu para conter um crime”. Nada sobre o horror relatado pelos moradores, sobre as casas invadidas, as pessoas machucadas e aterrorizadas, impedidas de olhar para cima pelos representantes de uma ordem que só representa a eles mesmos. Nada sobre o transformador destruído a tiros, que deixou a Nova Holanda sem luz por dois dias. Nada sobre os mortos. O governador? Demorou dez dias para falar a respeito.
Maré

Só que quebraram vitrines no Leblon. Aí não. No Leblon não pode. Aí já é vandalismo, e toma reunião de emergência, e toma criação de Comissão Especial De Nome Ridículo. Sinto muito. Não dá para falar sobre o Leblon agora. Não antes de se falar da polícia. Dos governantes. Das pessoas que morreram, das pessoas que sofreram e continuam sofrendo com a violência cega e desmedida dessa polícia que, parece, é muito bem mandada.

Mas parece que, para a mídia dominante, só isso existe: as vitrines do Leblon tomaram conta do noticiário. O choro do empresário. As cenas dos cacos. Isso virou o centro de tudo, a justificativa de tudo. As vitrines do Leblon permitem tudo.

O Leblon que me desculpe: tenho outras prioridades. E acho que quem governa o Rio de Janeiro também deveria ter.

https://www.youtube.com/watch?v=r_l8OHiPRG8

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Revalida será aplicado a alunos do Brasil- g1




12/07/2013 09h01 - Atualizado em 12/07/2013 11h16
Revalida, exame para médicos de fora, será aplicado a alunos do Brasil
Teste é única porta de entrada para formados no exterior trabalharem aqui.
Hoje, Revalida reprova 91%. Inep quer saber como brasileiros se sairiam.

Ana Carolina Moreno e Vanessa Fajardo Do G1, em São Paulo
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O Ministério da Educação decidiu aplicar o Revalida, exame obrigatório para quem cursou medicina fora do Brasil poder atuar como médico no país, também para estudantes da carreira matriculados em instituições brasileiras, de acordo com pessoas ligadas à área médica ouvidas pelo G1.

Procurado, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) confirmou nesta quinta-feira (11) que uma edição do exame será aplicada para uma amostra de estudantes do sexto (e último) ano de cursos de medicina no Brasil como um "pré-teste", mas não detalhou quantos alunos farão a avaliação, de quais universidades, a data, nem se será um exame pontual ou permanente. O G1 apurou que a prova deve ser aplicada ainda neste semestre.



TAXA DE APROVAÇÃO NO REVALIDA SEGUNDO A NACIONALIDADE DOS CANDIDATOS INSCRITOS

País de origem Nº de inscritos Nº de aprovados
2011 2012 2011 2012
Venezuela 7 11 3 (43%) 3 (27%)
Cuba 16 16 3 (19%) 4 (25%)
Argentina 20 10 6 (30%) 2 (20%)
Peru 46 39 3 (6%) 5 (13%)
Colômbia 22 30 6 (27%) 3 (10%)
Brasil 393 560 31 (8%) 42 (7%)
Bolívia 119 156 4 (3%) 10 (6%)
Países da Europa 13 20 2 (15%) 4 (20%)
Outros países
da América Latina 35 38 2 (17%) 4 (10%)
Países da Ásia 3 1 0 (0%) 0 (0%)
Países da África 2 2 1 (50%) 0 (0%)
Países da América
do Norte 1 1 0 (0%) 0 (0%)
TOTAL 677 884 65 (10%) 77 (9%)
Fonte: Inep/MEC


Os novos médicos que serão contratados pelo programa anunciado pelo governo federal no dia 8 de julho, o "Mais Médicos", estarão dispensados do exame. Eles terão uma autorização temporária de três anos para exercer a medicina sem ter de validar o diploma no Brasil.

Como o índice de reprovação do Revalida é muito alto (veja tabela ao lado), a intenção do governo é aplicar entre os alunos brasileiros que estudam no país para testar habilidades e competências.

O Revalida é um exame nacional criado pelo Ministério de Educação que representa a porta de entrada tanto para estrangeiros quanto brasileiros que se formaram no exterior exercerem a medicina no Brasil. Ele é uma exigência para que o diploma seja válido no país.

Pelo exame, enquanto o médico não for aprovado e não obtiver a revalidação do diploma pelas instituições do ensino público, ele fica impedido de atuar no país. Se um médico for reprovado no Revalida, ele pode se inscrever para fazer o exame do ano seguinte.

Em 2012, 884 pessoas de várias partes do mundo se inscreveram para o Revalida, e apenas 77 (menos de 9%) conseguiram a aprovação no exame.

O Brasil respondeu pela grande maioria dos inscritos (560), mas apenas 7% dos candidatos foram aprovados. O país ficou na sexta colocação no ranking de índices de aprovação. Os países que obtiveram o maior êxito neste quesito foram Venezuela (27%) e Cuba (25%), apesar de o número absoluto de inscritos ter sido pequeno. Nenhum candidato com nacionalidade de países da Ásia, África ou América do Norte conseguiu passar na prova do MEC.
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Diplomas que mais ajudam no Revalida
Os dados do Inep sobre as provas aplicadas em 2012 indicam que os cursos de medicina de Portugal são os que melhor preparam os médicos para a aprovação no Revalida. No ano passado, dos oito diplomados no país incritos na prova, três conseguiram passar, o equivalente a 37%.

No lado oposto da tabela estão as universidades bolivianas, que expediram a maioria dos diplomas de quem se inscreveu no Revalida mais recente. Apenas 4% dos 411 inscritos na prova formados em instituições bolivianas conseguiram a permissão do governo federal para exercer a medicina no Brasil. (veja na tabela abaixo).



ÍNDICE DE APROVAÇÃO, SEGUNDO O PAÍS DE ORIGEM DO DIPLOMA DOS CANDIDATOS INSCRITOS
País de
origem
do diploma Nº de inscritos Nº de aprovados
2011 2012 2011 2012
Portugal 0 8 - 3 (37%)
Venezuela 16 15 4 (25%) 4 (26%)
Argentina 56 69 13 (23%) 14 (20%)
Espanha 16 26 0 (0%) 5 (19%)
Peru 45 33 5 (11%) 5 (15%)
Cuba 140 182 15 (11%) 20 (11%)
Colômbia 19 28 6 (32%) 3 (11%)
Paraguai 17 50 1 (6%) 2 (4%)
Bolívia 304 411 14 (5%) 15 (4%)
Outros países da Europa 18 21 2 (11%) 5 (24%)
Outros países da Am.Latina 42 37 5 (12%) 1 (3%)
Países da África 0 2 - 0 (0%)
Países da Ásia 2 1 0 (0%) 0 (0%)
Países da Am. do Norte 2 1 0 (0%) 0 (0%)
Fonte: Inep/MEC


A Venezuela ficou na segunda posição no ano passado. As instituições do país aprovaram 27% de seus estudantes que participaram da prova.

Entre os 26 candidatos que se formaram em medicina na Espanha, 19% conseguiram a aprovação. Na edição de 2011 do Revalida, porém, todos os 16 candidatos formados em instituições espanholas foram reprovados. Estudantes de instituições de outros dez países europeus não especificados pelo Inep tiveram índice de aprovação de 24%.

O Brasil não figura na tabela porque quem se formou no país não é obrigado a prestar o exame para exercer a profissão.

Padronização do teste
O exame foi criado em 2011 com o objetivo de unificar o processo de revalidação em consonância com as diretrizes curriculares nacionais dos cursos de medicina. Antes do Revalida, cada instituição de ensino superior estabelecia os processos de análise seguindo a legislação.

Segundo informações divulgadas no site do Inep, o exame cobra habilidades e competências das cinco grandes áreas da medicina: cirurgia; medicina de família e comunidade; pediatria; ginecologia-obstetrícia e clínica médica. Há níveis de desempenho esperados para as habilidades específicas de cada área.

O exame é aplicado em duas etapas: avaliação escrita, composta por uma prova objetiva, com questões de múltipla escolha, e uma prova discursiva. Numa segunda etapa, é realizada a avaliação de habilidades clínicas.

O médico e a ética


O médico e a ética

Mauro Santayana, blog: MauroSantayana

“Em 1956, conheci, na cidade do Serro, em Minas, o médico Antonio Tolentino, que era o profissional mais idoso ainda em atividade no Brasil. Ele chamava a atenção por dois motivos: coubera-lhe assistir ao parto de Juscelino, em 1902, e não alterara o valor da consulta, que equivalia, então, a cinco cruzeiros. Entrevistei-o, então, para a Revista Alterosa, editada em Minas e já desaparecida.

Em razão da matéria, o deputado federal Vasconcelos Costa obteve, da Câmara, uma pensão vitalícia da União para o médico, que morreu logo depois. Ele tinha, na época, 94 anos – e setenta de atividade. Seus descendentes criaram um museu, em sua casa e consultório. Uma das peças é o anúncio que fez, logo no início da carreira: “aos pobres, não cobramos a consulta”.

Confesso o meu constrangimento. Estou em idade em que dependo, e a cada dia mais, de médicos, e de bons médicos, é claro. Tenho, entre eles, bons e velhos amigos. O que me consola é que os meus amigos estão mais próximos da filosofia de vida do médico Antonio Tolentino, do que dos que saíram em passeata, em nome de seus direitos, digamos, humanos.

Mais do que outros profissionais, os médicos lidam com o único e absoluto bem dos seres, que é a vida. Os enfermos a eles levam as suas dores e a sua esperança. É da razão comum que eles estejam onde se encontram os pacientes – e não que eles tenham que viver onde os médicos prefiram estar.

De todos os que trataram do assunto, a opinião que me pareceu mais justa foi a de Adib Jatene. Um dos profissionais mais respeitados do Brasil, Jatene acresce à sua autoridade o fato de ter sido, por duas vezes, Ministro da Saúde. Ele está preocupado, acima de tudo, com a qualidade do ensino médico no Brasil. Se houvesse para os médicos exames de avaliação, como o dos bacharéis em direito, exigido pela OAB para o exercício profissional, o resultado seria catastrófico.

Jatene recomenda a formação de bons clínicos e, só a partir disso, a especialização médica. Os médicos de hoje estão dependentes, e a cada dia mais, dos instrumentos tecnológicos sofisticados de diagnóstico, e cada vez menos de seu próprio saber. O vínculo humano entre médico e paciente – salvo onde a medicina é estatizada – é a cada dia menor. Assim, Jatene defende o sistema do médico de família. Esse sistema permite o acompanhamento dos mesmos pacientes ao longo do tempo, e a prática de medidas preventivas, o que traz mais benefícios para todos.

Entre outras distorções da visão humanística do Ocidente, provocadas pela avassaladora influência do capitalismo norte-americano, está a de certo exercício da medicina e da terapêutica. A indústria farmacêutica passou a ditar a ciência médica, a escolher as patologias em que concentrar as pesquisas e a produção de medicamentos. A orientação do capitalismo, baseada no maior lucro, é a de que se deve investir em produtos de grande procura, ou, seja, para o tratamento de doenças que atinjam o maior número de compradores. Dentro desse espírito, a medicina, em grande parte, passou a ser especulação estatística e probabilística.

Os médicos protestam contra a contratação de profissionais estrangeiros, pelo prazo de três anos, para servir em cidades do interior, onde há carência absoluta de profissionais. Não seriam necessários, se os médicos brasileiros fossem bem distribuídos no território nacional, mesmo considerando a má preparação dos formados em escolas privadas de péssima qualidade, que funcionam em todo o país.

Ora, o governo oferece condições excepcionais para os que queiram trabalhar no interior. O salário é elevado, de dez mil reais, mais moradia para a família, e alimentação. É muitíssimo mais elevado do que o salário oferecido aos engenheiros e outros profissionais no início de carreira. Ainda assim, não os atraem. E quando o governo acrescenta ao currículo dois anos de prática no SUS, no interior e na periferia das grandes cidades, vem a grita geral.

Formar-se em uma universidade é, ainda hoje, um privilégio de poucos. Os ricos são privilegiados pelo nascimento; os pais podem oferecer-lhe os melhores colégios e os cursos privados de excelência, mas quase sempre vão para as melhores universidades públicas, bem preparados que se encontram para vencer a seleção dos vestibulares. Os pobres, com a ilusão do crescimento pessoal, sacrificam os pais e pagam caro a fim de obter um diploma universitário que pouco lhes serve na dura competição do mercado de trabalho.

Um médico sugeriu que a profissão se tornasse uma “carreira de estado”, como o Ministério Público e o Poder Judiciário. Não é má a idéia, mas só exeqüível com a total estatização da medicina. Estariam todos os seus colegas de acordo? Nesse caso não poderiam recusar-se a servir onde fossem necessários.

Temos, no Brasil, o serviço civil alternativo que substitui o serviço militar obrigatório, e é prestado pelos que se negam a portar armas. Embora a objeção possa ser respeitada em tempos de paz, ela não deve ser aceita na eventualidade da guerra: a defesa da nação deve prevalecer. Mas seria justo que não só os pacifistas fossem obrigados, pela lei,depois de formados pelos esforços da sociedade como um todo, a dar um ou dois anos de seu trabalho à comunidade nacional, ali e onde sejam necessários. Nós tivemos uma boa experiência, com o Projeto Rondon, que deveria ser mais extenso e permanente como instituição no Brasil.

As manifestações recentes mostram que todos, em seus conjuntos de interesses, querem mais do Estado em seu favor. Não seria o caso de oferecerem alguma coisa de si mesmos à sociedade nacional? Dois anos dos jovens médicos trabalhando no SUS – remunerados modestamente e com os gastos pagos pelo Erário – seriam um bom começo para esse costume. E a oportunidade de aprenderem, com os desafios de cada hora, a arte e o humanismo que as más escolas de medicina lhes negaram.”

quarta-feira, 10 de julho de 2013

PROTESTO CONTRA O ECHELON


Se desde a década de 90 é assim, imaginem agora

Em 2001 escrevi o texto abaixo para a Revista Caros Amigos.
O texto continua atual.
Leiam abaixo.

PROTESTO CONTRA O ECHELON




Está marcado para o dia 21 de outubro o Dia Internacional Contra a Invasão de Privacidade.

É um protesto contra o Echelon, nome codificado do projeto secreto do governo dos Estados Unidos, que permite à sua Agência Nacional de Segurança (NSA) interceptar e monitorar todo tipo de comunicação eletrônica.

Haverá várias manifestações em todo o mundo.

Um relatório do Parlamento Europeu afirma que o "Echelon é um sistema global de vigilância, que se espalha por todo o mundo e tem como alvo todos os principais satélites Intelsat usados para a maioria das comunicações mundiais com telefones, Internet, e-mail e faxes, que são rotineiramente interceptados pela NSA".

E que "o Echelon foi concebido sobretudo para espionar governos, organizações e empresas em todos os países do mundo".


O Ministério da Defesa da França denunciou que agentes da NSA ajudaram a instalar chips de espionagem nos programas da Microsoft.

Isto significa controle das comunicações na Internet e a transformação dos computadores, sejam eles brasileiros, americanos ou iraquianos, em linha auxiliar do governo dos Estados Unidos.

A Microsoft contou com o apoio da NSA desde a sua fundação, inclusive financeiro.

Além disso, a NSA obrigou a IBM a aceitar o sistema operativo MS-DOS para operar com a administração norte-americana.

Em janeiro de 1994, o primeiro-ministro francês Edouard Balladur acertou com a Arábia Saudita a assinatura de um megacontrato de fornecimento de Airbus e de armamentos. Além do dinheiro oficial, haveria o barani (por fora).

O Echelon interceptou a oferta, Washington "protestou" (dizem que baranou mais) e o contrato acabou ficando com a McDonnell-Douglas.


O Brasil também não escapou da vigilância e novamente os franceses foram prejudicados.

Quando já davam como certo o fornecimento de radares para o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), novo “protesto” de Washington.

Teria sido tão substancial esse “protesto”, que estremeceu as relações entre o Brasil e a França, que viu a sua Thomson-CSF ser superada pela americana Raytheon.


Hoje, o Pentágono é o maior cliente da Microsoft no mundo.

Um pequeno exemplo do poderio do Echelon: Iyad Hardan, 30 anos, dirigente militar do Jihad Islâmico, foi localizado no norte da Cisjordânia e morto por uma explosão quando utilizava um telefone público.

Outro palestino, Yahya Ayyash, do Hamas, teve o mesmo fim. Seu telefone celular explodiu quando fazia uma ligação.

O assassinato desses dois palestinos foi um favor prestado aos dirigentes israelenses, defensores incondicionais do Echelon.

Foi também um recado a organizações não-governamentais como as pacifistas Anistia Internacional, Ajuda Cristã, Médicos-Sem-Frontreiras e Repórteres do Mundo, entre outras, que não gozam da simpatia do Pentágono.

Além da sede central em Fort Meade, o Echelon possui bases em Yakima (200 quilômetros a sudoeste de Seattle) e Sugar Grove (250 quilômetros a sudoeste de Washington).

Fora dos Estados Unidos, opera no Canadá, em Morwenstow (Cornualha britânica), Waihopai (Nova Zelândia) e Geraldton, no Oeste da Austrália.

Daí o sugestivo título de "rede de espionagem dos anglo-saxões".

O Echelon possui a capacidade de decodificar e gravar mais de dois milhões de conversas políticas, industriais e pessoais por hora em qualquer lugar do planeta.

Existem palavras-chave que, ao ser captadas, são encaminhadas a computadores de decodificação, denominados "dicionários Echelon".

E são palavras como as que seguem abaixo que os defensores da privacidade pedem para utilizar no dia 21 de outubro para congestionar o Echelon: Anistia Internacional, OLP, revolução, terrorismo, carta-bomba, carro-bomba, ETA, Hamas, Hizbullah, IRA.

O texto não precisa ser coerente. Existem também inúmeras palavras na área econômica, mas aí cada país precisa especificar a sua. No Brasil, por exemplo, temos o caixa-dois, propina, molhar a mão, xexeta, Cayman, Amazônia etc.

OBS. Se há 11 anos era assim, imaginem hoje..

Lab


Documentário retrata territórios palestinos como laboratório para indústria bélica de Israel
"The Lab", do diretor Yotam Feldman, mostra como guerras ajudam no aumento das vendas de armamentos do país
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O documentário The Lab (O Laboratório, em tradução livre), do diretor israelense Yotam Feldman, expõe a alta lucratividade dos "testes" realizados pelo Exército de Israel nos territórios palestinos, para a indústria militar do país.

De acordo com o filme, realizado com o apoio do canal 8 da TV israelense, a cada operação militar, novas armas são testadas, gerando um aumento direto das vendas no mercado internacional.

Guila Flint/Opera Mundi

O diretor do documentário vê as guerras como uma fonte de lucro, e não como um peso para Israel

Feldman, de 32 anos, trabalhou três anos e meio para produzir o filme, de 58 minutos, no qual entrevista figuras-chave da indústria bélica israelense.

Alguns dos personagens são militares da reserva e outros são exportadores e empresários. Todos falam abertamente sobre seu ramo de trabalho e expõem visões de mundo diversas.

"Quis fazer um filme sobre esse assunto, que é duro, mas sem cair nos clichês", disse Feldman a Opera Mundi. "Escolhi os personagens que me pareceram mais sinceros e que foram capazes de falar com mais desenvoltura sobre seus negócios.”

Segundo o diretor, durante a pesquisa para fazer o filme, ele se convenceu de que "a prosperidade da economia israelense não ocorre apesar das guerras, mas sim, em grande parte, em decorrência das guerras".

"Na minha pesquisa descobri que, do ponto de vista econômico, as guerras não são uma carga, mas uma fonte de lucro.”

Feldman explica que não há necessariamente uma relação de causalidade entre a motivação para as guerras e os lucros econômicos, ou seja, ele não afirma que Israel inicia guerras supostamente para obter benefícios financeiros.

"Apenas constato que, após cada guerra, na qual são testadas novas armas, as vendas dessas armas aumentam e os lucros são muito grandes", disse.

"Hipocrisia"

Um dos personagens principais do documentário, o general Yoav Galant, aponta o que chama de "hipocrisia" da comunidade internacional.

"Eles denunciam as operações militares de Israel, mas depois todos vêm aqui comprar nossas armas", afirma Galant, que foi chefe do Comando Sul do Exército de Israel e um dos principais planejadores da chamada Operação Chumbo Fundido, que deixou cerca de 1.400 palestinos mortos na Faixa de Gaza e 13 mortos do lado israelense.

Depois dessa ofensiva, que começou em dezembro de 2008 e terminou em janeiro de 2009, as exportações de armas israelenses para dezenas de países aumentaram em 2 bilhões de dólares.

Hoje em dia as vendas do setor bélico são calculadas em 7 bilhões de dólares, o que representa cerca de 20% do total das exportações israelenses.

De acordo com Ehud Barak, que foi ministro da Defesa de 2007 a 2013, cerca de 150.000 famílias em Israel (quase 1 milhão dos 8 milhões de habitantes) se sustentam da indústria militar.

"De certa forma, toda a sociedade israelense sai ganhando com a exportação militar, que, por sua vez, ganha credibilidade com os 'testes' realizados nas guerras", afirma Feldman, que também menciona o fato de muitos dos fundos de pensão no país investirem nas ações sólidas de empresas militares.

Em um dos trechos do filme, o ex-ministro da Defesa Binyamin Ben Eliezer afirma que outros países "gostam de comprar armas que já foram testadas, nossa experiência traz bilhões de dólares para Israel".

"Se algum dia tivermos paz e perdermos o 'laboratório' em Gaza e na Cisjordânia, com certeza esses lucros vão se reduzir significativamente", disse Feldman.

Segundo a revista britânica especializada em assuntos militares, a Jane's IHS, Israel é o sexto exportador de armas do mundo e, desde 2008, o volume de negócios do país nesse setor aumentou em 74%.

Filosofia militar

Outro personagem do documentário é o filósofo militar Shimon Naveh. Naveh colabora no planejamento estratégico "filosófico" do Exército de Israel e foi um dos autores do que chamou de tática "fractal" na ocupação da Kasbah (centro histórico) da cidade palestina de Nablus, na Cisjordânia, em 2002.

Em abril daquele ano, depois de uma onda de atentados suicidas nas grandes cidades israelenses, o governo, então chefiado pelo ex-primeiro-ministro Ariel Sharon, resolveu reocupar todas as cidades palestinas que haviam sido entregues à Autoridade Palestina, comandada por Yasser Arafat.

O plano "fractal" do filósofo Naveh consistiu em ocupar o centro antigo de Nablus, com suas ruelas estreitas, por intermédio da invasão das casas palestinas, sendo que a passagem de uma casa a outra foi feita através de buracos detonados por explosivos nas paredes.

Segundo Naveh, com essa tática o Exército israelense conseguiu surpreender e derrotar os combatentes palestinos que haviam se preparado para uma invasão pelas ruas.

"Viramos o jogo", disse Naveh, "deixamos as ruas vazias e entramos pelas paredes".

De acordo com Naveh, esse e muitos outros métodos são ensinadas por treinadores israelenses a oficiais de muitos exércitos do mundo que vêm aprender em Israel.

Treinamento israelense para o BOPE

Um dos maiores importadores da indústria militar israelense é o Brasil. De acordo com Feldman, o Brasil compra aviões não tripulados, mísseis e programas de treinamentos especializados de empresas israelenses, tanto privadas como estatais.

Um dos principais exportadores para o Brasil é o israelense-argentino Leo Gleser, que esteve envolvido no treinamento do BOPE antes da pacificação das favelas do Rio de Janeiro.

Gleser diz que tenta transformar a venda de armamentos em "um pacote menor e menos fedorento"

"A semelhança física entre as Kasbas (centros históricos) das cidades palestinas e as favelas brasileiras é muito grande", disse Feldman. “Os campos de refugiados palestinos, com suas ruelas estreitas, também são muito parecidos com as favelas".

"Portanto, a experiência de Israel nos territórios palestinos é relevante para o BOPE".

Parte do filme se passa no Complexo do Alemão, onde Leo Gleser é visto sendo calorosamente recebido por oficiais brasileiros que confirmam ter sido treinados por empresas israelenses.

Em uma das cenas, o exportador toma uma caipirinha com Feldman em um bar no Rio de Janeiro. O diretor lhe pergunta se ele não sente alguma contradição entre seu duro ramo de negócios, "que mata muita gente", e seu caráter simpático, "como pai e avô carinhoso".

Gleser retruca com perguntas: "Você acha que a vida é uma caixa de bombons? Quando você era pequeno sua mãe não limpava seu cocô?".

"Eu não crio a merda, apenas trabalho para transformá-la em um pacote menor e menos fedorento", acrescentou.

Ironia

O documentário também tem uma dose sutil, porém significativa, de ironia. Em uma das cenas, um dos empresários se vangloria de que cada míssil que vende no mercado internacional "vale um apartamento em Tel Aviv" (os preços dos imóveis na cidade estão entre os mais altos do mundo).

Nesse momento, Feldman responde: "mas cada míssil desses também pode destruir um apartamento em Tel Aviv".

"Acho que a ironia, que faz parte de mim, de certa forma facilita olhar para essa realidade, cujos conteúdos são duros", disse Feldman.

De acordo com o diretor, todos os personagens do filme já tiveram a oportunidade de ver o resultado final e "nenhum deles se arrependeu de ter participado".

"Os personagens que entrevistei concordaram em abrir seu mundo perante a câmera, dando ao público uma oportunidade inédita de conhecer de perto uma realidade que geralmente fica apenas nos bastidores", concluiu.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Submissão e servilismo


SOBERANIA JÁ DILMA! Lembremo-nos de Alcântara


Alcântara, explosão até hoje não esclarecida


Submissão e servilismo aos espiões não!

João Vicente Goulart*

É de uma imensa falta de soberania o não esclarecimento imediato a nossa população o que faz uma base da NSA americana (National Security Agency) na capital de nosso país, em nossas barbas , em nossa casa, monitorando nosso governo, nossos planos militares, nossas estratégias e o pior, fazendo de bobo o povo brasileiro ao querer convencer- nos de que isto é normal em um país democrático? Nossa embaixada em Washington é “target” prioritária?

Agora sabemos que o monitoramento se dá através de satélites por nós alugados dos nossos soberanos imperialistas que como quer convencer o embaixador Shannon é um monitoramento corriqueiro, em explicação ao nosso ministro Paulo Bernardo. Ridículo se não fosse grave.

Será que para entender isto temos que voltar a agosto de 2003, onde a explosão até hoje não esclarecida pegou o Brasil e o Governo Lula de surpresa quando misteriosamente explodiu nossa base militar de Alcântara três dias antes do lançamento de nosso foguete transportador de um satélite brasileiro? Sabe-se que dias antes mais de 20 “turistas americanos” estavam há dias nas pequenas pousadas de Alcântara, subitamente despertada para tão grande movimentação turística americana? Onde foi parar a investigação daquele fato?

É sabido a aversão que os americanos desenvolvem com quem quer ter a tecnologia de lançamento e construção de satélites própios, mas o que diz nosso governo? Vamos fazer um protesto através da nossa chancelaria e pedir explicações ao embaixador americano pensando que vamos ter um esclarecimento claro como merece nossa soberania? Ou teremos uma desculpa espalhafatosa e ficar por isso mesmo?

Nossa tecnologia espacial foi para o espaço com o custo da perda de 21 dos melhores técnicos e engenheiros aeroespaciais que tínhamos atrasando em décadas nosso próprio satélite de comunicações e nós, mesmo sem apurar o que aconteceu, se foi ou não um atentado de sabotagem, passamos a usar através de aluguel satélites americanos para nossas comunicações e deixamos para lá as investigações de quem foram os sabotadores?

Não custa lembrar que o Governo FHC quase transfere essa base de Alcântara aos americanos e graças a um relatório do então Deputado Waldir Pires o Congresso soberanamente após ver o absurdo daquela operação onde o Brasil não poderia sequer entrar nas dependências da mesma optou por rejeitar aquele crime de “lesa-pátria” que se estava cometendo.

E hoje? Que respondemos ao Tio Sam? Vamos romper o contrato que mantemos com eles e os seus satélites ou vamos pedir ao mexicano Slim que nos empreste os dele para nossos planos estratégicos, sejam eles militares, de comunicação ou segurança de nossas fronteiras?

E depois ainda tem gente que defende a privatização de tudo, inclusive de nossa soberania...

*João Vicente Goulart
Diretor do IPG- Instituto Presidente João Goulart

sexta-feira, 5 de julho de 2013

"Primavera Árabe"


Egito muda o rumo da chamada "Primavera Árabe"

04/07/2013 http://portalctb.org.br/site/opiniao/19830-egito-muda-o-rumo-da-chamada-qprimavera-arabeq
Lejeune Mirhan


O mundo assistiu, desde domingo, àquilo que a BBC de Londres chamou de “a maior manifestação de massas da história da humanidade ocorrida em um só dia em um país”. Pura verdade. O Egito assistiu no domingo, 30 de junho, a 17 milhões de pessoas nas ruas. E nesta quarta, 3 de julho, foram 30 milhões. E esse que é o maior país árabe, possui 82 milhões de habitantes. Grosso modo, podemos dizer que 36% de sua população saíram às ruas para pedir o fim do governo de Mohamed Mursi.

Seria como imaginarmos que 72 milhões de brasileiros saíssem às ruas para protestar. Inimaginável. E olha que a Globo, em seu Fantástico domingo noticiava assim: “milhares de pessoas vão ás ruas no Egito” (sic). Se falasse centenas de milhares estaria mentindo.

Em função do peso político e estratégico para todo o mundo árabe e mesmo o Oriente Médio que tem o Egito, vale a pena refletir sobre os acontecimentos dos últimos dias. Até porque a grande imprensa (TVs e jornais burgueses), procurou dar um enfoque completamente distinto da realidade. Como essas empresas não fazem jornalismo e sim propaganda, servem a interesses de classe e de partidos conservadores, os que estão em outro campo precisam se posicionar.

Que erros Mursi cometeu?

As eleições de maio de 2012, de fato, foram as primeiras em 60 anos. Aos que não conhecem bem a história do Egito, desde que Gamal Abdel Nasser destituiu a monarquia do rei Farouk em 1952, em 60 anos apenas ele e mais dois generais egípcios governaram o país. Foi Anuar El Sadat, de 1970 até 1979, quando foi assassinado, e Hosni Mubarak, de 1979 até 2011, quando foi destituído e o Exército assumiu o comando do país por um ano e meio.

O que a mídia chamou de “primavera árabe”, nada teve de primavera. Os árabes mais conscientes, para refutar essa terminologia a chamam de “inverno árabe”. O que ela trouxe na essência não foram mudanças substanciais, rupturas, melhorias para o povo árabe. Trouxe o tal “gigante adormecido” de que a mídia tupiniquim tanto fala para enaltecer certos setores de uma direita reacionária, antidemocrática e despótica que não preza a democracia.

No caso do Egito e da Tunísia, os primeiros países árabes que tiveram eleições, venceram os partidos islâmicos conservadores. Em alguns aspectos da vida social e política acabaram por piorar as coisas para o povo. No caso específico do Egito, o governo dito “democrático” de Mursi governou única e exclusivamente para o seu partido, que é religioso e se chama Partido da Justiça e da Liberdade, braço política da Irmandade Muçulmana. Essa gente defende o Estado islâmico, a volta do Califado Islâmico. Eles têm saudades dos sultães otomanos que governaram o império islâmico por mais de 400 anos.

O Egito de Mursi não rompeu os acordos com o FMI. Ao contrário, se submeteu a eles. O grupo palestino que posa de revolucionário para a mídia, chamada Hamas, que é um partido islâmico e não integra a OLP, a resistência palestina que é laica, adora o Mursi. Até porque a Faixa de Gaza faz fronteira com o Egito e o grande sonho dos palestinos que vivem nessa área que é considerada a maior prisão a céu aberto do mundo, era de que a fronteira na cidade de Rafah fosse imediatamente aberta para o livre trânsito de pessoas e mercadorias. Que nada. Mursi a manteve fechada, obedecendo às ordens dos Estados Unidos e de Israel. Em certa medida até piorou a situação.

Para piorar as coisas, Mursi governou apenas para a sua Irmandade. Não era o presidente de todos os egípcios. É bem verdade que ele não era o candidato original da Irmandade. O nome que eles trabalhavam foi impugnado pela comissão eleitoral simplesmente porque tinha nacionalidade estadunidense. Mursi surgiu de última hora, sem preparo algum. Um completo incapaz.

Como disse, o Egito não tem tradição alguma de eleição e de democracia. E quando fez a primeira, a própria esquerda e setores nacionalistas e patrióticos, socialistas e comunistas acabaram dividindo-se em três grandes candidaturas. Estas ficaram em 3º, 5º e 6º lugar e não foram ao segundo turno. A soma deles, garantiria uma vaga no 2º turno. O principal deles, Hamdeen Sabahi, um homem de esquerda, ficou em 3º lugar e era apoiado pelo PC Egípcio entre outras forças. Hoje, Hamdeen é um dos líderes da chamada Frente de Salvação Nacional, que assumiu o comando ao país com a queda de Mursi.

Outro grave erro de Mursi foi a modificação da Constituição do país, que sempre foi laica. Nas mudanças operadas por ele em dezembro passado na calada da noite, introduziu mudanças que retrocederam em relação à laicidade do país. Começam as exigências do uso do véu pelas mulheres e proibições de venda de bebidas alcoólicas. Tal qual seu amigo e irmão da Irmandade, o pretenso sultão otomano da atualidade, Tayip Erdogan da Turquia, vem fazendo.

No entanto, houve uma gota d’água que irritou profundamente o povo árabe do Egito. Que Mursi apoiava e ajudava a financiar os terroristas jihadistas, salafistas, wahhabitas e da Irmandade no ataque que a Síria vem sofrendo há mais de dois anos todo mundo sabia. Mas, há um mês ele rompeu relações diplomáticas com a Síria, o mais antigo país árabe e dos mais antigos da humanidade. Seguiu claras orientações do imperialismo estadunidense, de Israel, mas principalmente da União Europeia que odeia Bashar Al Assad.

A Frente de Salvação Nacional

Os patriotas, nasseristas, comunistas e socialistas egípcios parecem ter aprendido lições da experiência da dispersão eleitoral do ano passado. Após a derrota eleitoral, agora se agruparam em uma frente ampla. Criaram a FSN que agrupa em torno de 30 partidos políticos de um espectro ideológico amplo. O Partido Comunista Egípcio não a integra formalmente, mas a apoia.

A Frente de Salvação Nacional é composta pelas seguintes organizações: Partido da Constituição – Mohamed El Baradei; Corrente Popular Egípcia – Hamdeen Sabahi; Partido do Congresso Egípcio – Amr Moussa; Partido da Nova Comitiva – Mounir Fakhri Abdel Nour; Partido do Egito Livre – Amr Hamzawy; Partido Social Democrata Egípcio – Mohamed Abu Ghar; Partido da Frente Democrática – Sakina Fouad; Partido dos Egípcios Livres – Ahmed Saeed; Aliança Democrática Revolucionária que inclui 10 partidos e movimentos revolucionários; Partido do Aglomerado – Gouda Abdel Khalek; Partido da Reforma e Desenvolvimento – Nosso Egito; Partido da Liberdade; Partido da Geração Democrática; Partido Socialista Egípcio; Aliança Popular Socialista; Socialistas Revolucionários; Partido da Paz Social; Partido Egito do Futuro; Partido da Dignidade; Assembleia Nacional para a Mudança e a Aliança dos Partidos Nasseristas. Além disso, é integrada pela Central Geral dos Camponeses, União Independente dos Camponeses e a Frente Nacional das Mulheres (fonte: www.orientemidia.org).

Um dos seus líderes, uma espécie de coordenador, é Mohamed El Baradei. Ele presidiu a Agência Atômica Internacional por cinco anos. Teria sido reeleito por mais um mandato como é da tradição na ONU, mas foi vetado pelos EUA. Seu maior crime: disse que o programa nuclear iraniano não visava à construção da bomba, tinha fins energéticos e científicos. Foi banido. Caiu em desgraça. Mas ganhou o Prêmio Nobel da Paz.

Baradei não é homem de esquerda. Talvez de centro. Um técnico. Teria sido imensamente votado nas eleições do ano passado, mas declinou de sua candidatura, abrindo espaços políticos para outras forças. Agora, é líder do Partido da Constituição. Foi duro contra o fundamentalismo religioso de Mursi e as mudanças na Constituição egípcia. Dialogava com as forças armadas em nome da FSN para as mudanças de rumo no país.

É preciso registrar as quatro reivindicações unitárias da Frente, apoiadas pelo PC Egípcio: 1. Renúncia imediata de Mursi; 2. Governo de transição com eleições em pelo menos seis meses; 3. Medidas econômicas em favor das massas populares e 4. Suspensão da atual Constituição e elaboração de uma nova. Esse é o programa que unifica toda a oposição.

O papel das forças armadas

As forças armadas egípcias tiveram grande papel na história. Apoiaram a derrubada da monarquia em 1952, deram sustentação para Nasser nacionalizar o canal de Suez e peitaram Israel em pelo menos dois confrontos diretos.

Uma das primeiras medidas de Mursi foi trocar o comando das forças armadas. Aposentou 12 generais de altas patentes e nomeou novos. Alguns mais jovens inclusive. Dentro de sua linha mais religiosa. No entanto, essas mexidas de nada adiantaram. Seu projeto político e religioso, de sua Irmandade, não conta com nenhum respaldo na tropa. Os militares egípcios defendem a laicidade do Estado, da mesma forma que isso na Turquia é um tabu. Não se admite o retorno de um Estado religioso e fundamentalista.

Esse jovem comandante do Estado Maior das Forças Armadas, Abdel Fattah Al Sisi, dialogava com a FSN. O ato do dia 30 de junho fora marcado pela oposição um mês antes. Já se sabia que ele levaria milhões às ruas. Diferentemente do Brasil, os partidos levaram sim suas bandeiras, suas faixas, suas reivindicações. O general Sisi dialogava com a oposição. Assim, no domingo, em pronunciamento à nação, deu ultimato ao presidente Mursi. Não para que ele saísse, mas para que ele mudasse os rumos da economia do país, formasse um governo que tivesse partidos de todas as correntes políticas.

Mursi não mudou de posição, nem arredou o pé. Foi inábil politicamente até seus últimos momentos na presidência. Discursou na TV Al Jazeera que transmite em inglês e na TV Al Mayadeen (libanesa) que transmite em árabe e reafirmou que nada mudaria. O máximo que fez foi admitir “certos erros”.

Isso enfureceu ainda mais as massas árabes. Já desde a manhã da quarta-feira (3) em todas as cidades egípcias o povo tomou conta das ruas e praças. Os cálculos eram de 30 milhões de egípcios protestando e pedindo a saída do presidente.

O ultimato venceu às 19h. Novamente, o general Al Sisi foi à TV. As imagens atrás do púlpito em que discursou tinham, além da bandeira nacional, as bandeiras das três forças militares. À sua esquerda e à sua direita, duas fileiras de cadeiras duplas com todas as lideranças nacionais, dos partidos, das Igrejas Coopta (a mais antiga Igreja cristã da terra), Islâmica, o presidente do Supremo Tribunal Federal de lá e organizações da sociedade civil. Mostrou ampla unidade nacional.

Nesse pronunciamento, ficava nomeado como novo presidente do Egito o jurista de carreira – cristão inclusive, o que mostra que o problema nunca foi religioso como muitos procuram mostrar – Adly Mansour. Que era vice-presidente da Suprema Corte desde 1992. Ela fora incumbido de reescrever, com auxílio de juristas, a constituição da República. Deve indicar a formação de um governo de união nacional. Fala-se no nome de Baradei para primeiro-ministro, para formar um governo “técnico”, que recupere aceleradamente a economia nacional.

No entanto, também no seio das forças armadas, o rompimento de Mursi com a nação Síria, da qual o Egito fora associado no que foi chamado de República Árabe Unida – RAU em 1958, caiu igual a uma bomba. Repercutiu de forma extremamente negativa essa atitude serviçal ao sionismo e ao imperialismo.

A repercussão na mídia burguesa

O que chamamos de mídia burguesa não passa de uma organização empresarial, capitalista, que vende propaganda. Nunca notícia. Está a serviço de um tipo particular de capitalismo, que é o financeiro. É golpista de primeira hora. Jamais teve apreço por democracia alguma. Muito ao contrário. Sempre que pode, em qualquer país do mundo, apoia abertamente golpes de Estado contra presidentes democraticamente eleitos. Criminaliza a política em geral. Aliena o povo. Embandeira-se falsamente com palavras de ordem “moral” e “ética”, mas seus protegidos são os maiores corruptos.

No caso do Egito, a cobertura não poderia ser diferente. A mídia golpista passou a defender o “presidente eleito democraticamente” e a “condenar o golpe de estado” (sic). A sua “democracia” é de fachada. Apega-se à forma e despreza o conteúdo. Faz o jogo do imperialismo, que queria ver Mursi no comando, para não abrir fronteira aos palestinos. Para financiar a derrubada do presidente sírio. Para ver o Egito se ajoelhar ao FMI.

No caso do Brasil, os comentaristas dos telejornais, em especial da tal Vênus Platinada, se contorceram em usar e abusar do termo “golpe militar”, “golpe de Estado”, “tomada de poder pelos militares”. A indignação dessa gente é completamente seletiva. Alinharam-se imediatamente aos golpistas em Honduras em 2011 e aos golpistas no Paraguai em 2012. Na maior cara dura. Agora, em completo desprezo aos 30 milhões que foram às ruas, se agarram a Mursi, não porque gostem dele, mas é o que eles têm de plantão para manter o mundo árabe na órbita imperialista.

Quem ganha e quem perde com as mudanças no Egito

É preciso ainda ver os rumos que as coisas irão tomar. Ainda não temos respostas para todas as perguntas. Nem temos ainda as perguntas certas a serem feitas. Mas, alguns palpites iniciais podemos e devemos oferecer.

A primeira certeza que tenho é de que o grande derrotado são os Estados Unidos. Se Mursi nunca foi o presidente do sonhos dos imperialistas, tampouco eles tiveram plenamente o controle de forma a indicar um aliado seu diretamente como Mubarak foi por 30 anos. Obama mesmo acaba de dizer que vai rever a ajuda militar em armamentos de 1,5 bilhão de dólares que todos os anos o Egito recebe desde 1981 (foram pelo menos 45 bilhões de dólares no período). Ainda que não fosse em dinheiro, essa ajuda sempre foi fundamental para armar o exército egípcio.

Sabemos que o que está em jogo ali não é essa ajuda. Mas, o acordo de paz com Israel, que Mursi preservou e agora volta à mesa e volta a assombrar os planejadores do Departamento de Estado dos Estados Unidos.

O segundo maior derrotado nesse processo é, sem dúvida alguma, a Turquia. Erdogan já vinha se isolando e enfrentando protestos populares cada dia maiores. Chegou a dizer que as manifestações que lá ocorriam tinham a mesma natureza que as do Brasil, como que para conseguir solidariedade da presidente Dilma. Que elas eram insufladas artificialmente para desestabilizar seu governo. Falso. As TVs turcas ignoraram completamente os milhões nas ruas do Egito durante todo o dia da quarta, 3 de julho. Ele deve estar apavorado neste momento. Deve temer sua sombra, mas em especial seu Exército, guardião da constituição e da laicidade do Estado turco.

Perde também o Hamas, o grupo palestino criado há 20 anos com a ajuda de Israel, que certas correntes que se dizem de “esquerda” no Brasil acham que é revolucionário. Não bastasse o seu financiador ter deixado o poder no Catar para seu filho de 33 anos, para onde na cidade de Doha eles mudaram o seu escritório político deixando Damasco por fazerem oposição ao presidente Bashar, agora se veem órfãos de seu outro aliado que é a Irmandade. Se já estavam isolados entre os palestinos pelas suas posições e distantes dos 13 partidos que integram a estrutura da OLP, da resistência palestina, que é laica e democrática, agora se isolam ainda mais.

Parece que vão pagando caro todos os que conspiraram pela derrubada do governo do presidente sírio, Dr. Bashar al Assad. A primeira que sai foi a que havia dito “Bashar tem que sair” (sic), que foi a “Hilária” Clinton. Depois, caiu o emir do Catar, Hamad Al Thani. Agora Mursi paga o seu preço. Quem será o próximo?

Sobre quem ganha, também só tenho uma certeza. As massas árabes da Síria foram para as ruas nesta quarta, 3 de julho. Dançaram e cantaram. Comemoraram a queda do traidor dos árabes. O grande vencedor é o jovem presidente Bashar. Ele aproveitou para dar uma entrevista para o jornal sírio Al Thawra (A Revolução), onde afirma que a maior derrota é do “islã político”. Sua frase exata: “todos os que usam a religião a serviço de seus interesses políticos ou de interesses de seus grupos, cairão, em todo o mundo, um depois do outro”. Tem sido profético o presidente sírio. Elogia o povo milenar egípcio, com forte pensamento pan-árabe.

Também nesse sentido, se fortalece o pensamento secular, pan-arabista, patriótico, que já vinha ganhando terreno desde as mobilizações de janeiro de 2011. Nesse sentido, fortalecem-se as forças de esquerda, socialistas e comunistas. Não por acaso, no mesmo dia 3 de julho o PC Libanês, o mais antigo do Oriente Médio, emitiu nota saudando o povo egípcio pela sua vitória nas ruas, com a queda de Mursi. A mesma coisa fez o PC Egípcio, que participou de todas as manifestações anti-Mursi.

Por fim, o fortalecimento da Rússia no cenário mundial. Ela que vinha apoiando desde o primeiro momento a resistência dos sírios aos ataques externos, agora, mais do que nunca, é alçada a país que os analistas burgueses chamam de global player. Veio para ficar. Seu poder e cacife ampliam-se consideravelmente. Sem falar da China. Mesmo que discreta, cresce no cenário internacional.

Desdobramentos e conclusões

Como já disse, é cedo para tirarmos muitas lições e conclusões. Muitos cenários podem ocorrer.

É provável que Baradei vire mesmo primeiro-ministro de um governo que recupere a economia nacional, rompa acordos com o FMI, atenda as aspirações básicas do povo, em especial dos mais pobres, criando empregos. Que retorne à soberania nacional. Que indique um secretário-geral da Liga Árabe, como é da tradição do Egito ocupar esse posto, que seja verdadeiramente comprometido com as causas árabes.

Mas que, fundamentalmente, restabeleça de imediato as relações políticas e diplomáticas com a Síria. Que se interrompa o financiamento e o apoio aos terroristas que atacam a Síria. Que se abra a fronteira do país com a Faixa de Gaza. Que apoie o processo de paz na Palestina. Enfim, que restabeleça o diálogo nacional com todas as forças políticas, entidades da sociedade civil e as centrais sindicais.

Podemos estar presenciando, agora sim, uma verdadeira primavera dos árabes. Quiçá o avanço em uma situação geopolítica que possa trazer a ampla independência nacional dos países árabes, que possa trazer democracia popular e bem-estar para as massas. Mais do que um desejo pessoal, é uma aspiração desse povo milenar que tantos legados deixou para toda a humanidade.

oc lejeuneLejeune Mirhan é sociólogo, professor, escritor e arabista. Colunista da Revista "Sociologia" da Editora Escala e colaborador do Portal Vermelho (onde este artigo foi originalmente publicado). Foi professor de Sociologia e Ciência Política da Unimep entre 1986 e 2006.

Mãe Pela Igualdade


Carta Aberta de uma MÃE à Presidenta Dilma Rousseff
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2 comentários:
Copiei de Maju Giorgi, Mãe Pela Igualdade

Meu nome é Maria Júlia Giorgi e, antes de qualquer coisa, sou “MÃE”. Ao contrário de muitos, não vou acusá-la por tudo que está acontecendo, porque tenho absoluta certeza que a culpa não é sua, ou, pelo menos, não é SÓ sua. Vou falar um pouco da minha FAMÍLIA, para que a senhora veja o quanto ela se parece com o país diverso que a senhora dirige. Eu tenho 2 filhos, um menino de 25 anos e uma menina de 22. André e Gabriela, BRASILEIROS. O meu filho é GAY. É jornalista, fotógrafo e já tem, aos 25 anos, um reconhecimento profissional invejável. É retratista e, inclusive, a senhora já foi fotografada por ele quando ainda era Ministra, em uma Couro Moda há alguns anos atrás, numa época em que eu ainda era sua fã e admirava sua personalidade que parecia indestrutível. Meu filho é um trabalhador e paga todos os tributos devidos ao seu governo. É muito espiritualizado e se enche de fé ao dizer “O meu Deus é o mesmo de Gandhi e de Bhagavad Gita.” Esse menino é um orgulho para nós todos, sua FAMÍLIA. A Gabriela, minha filha, é heterossexual, e se formará, COM LOUVOR, num futuro bem próximo, em Psicologia em uma das melhores universidades deste país. Ela tem um sonho… o de trabalhar com crianças com DDA, e eu tenho absoluta certeza que irá concretiza-lo com sucesso. A Gabi é EVANGÉLICA praticante. Foi a religião que ela escolheu e na qual quis ser batizada ainda no começo da adolescência, e contou com nosso apoio irrestrito. O pai dos meus filhos, meu marido, é economista e também paga todos os tributos devidos à nação. É daqueles homens que nasceram para ser PAI e que têm nos filhos seus melhores amigos. Ele vive para os dois, para a FAMÍLIA, e não mede esforços para dar conforto e estabilidade a todos. Ele é católico praticante, daqueles que carregam Nossa Senhora e São José na carteira para que o protejam em momentos difíceis. Meus dois filhos têm relacionamentos estáveis que já duram anos. E meus dois genros são completamente inseridos na minha família como um todo, que inclui avós, tios, primos, amigos, festas de Natal, de Páscoa e viagens de família.

Mas nem sempre foi assim! Eu precisei lutar muito, muito para chegar neste HOJE. Eu tive que vencer uma depressão, fobia social, quase tive meu casamento desfeito, vi a minha vida estraçalhada por uma sociedade homotransfóbica e por um governo omisso e rendido ao fundamentalismo. Cada vez que meu filho saia de casa, eu era tomada por um medo incontrolável de que ele não iria voltar. Meu filho, presidenta, sempre foi GAY. Eu me lembro de que quando ele era muito pequenininho, deveria ter uns 5 anos, um dia, vendo ele brincar, perguntei ao meu irmão: “Você acha que ele é GAY??” E o meu irmão me dizia: “Nãaao… acho que ele vai ser um intelectual!” Hoje, eu e meu irmão damos risada dessa época. Meu irmão diz: “É lógico que ele já era gay, eu só queria te acalmar!” Por amor a este filho, que eu sabia que jamais deixaria de ser gay, eu resolvi me levantar do sofá, largar a minha vidinha de dona de casa, a minha zona de conforto, as flores do meu jardim, e transformar o mundo… primeiro ao meu redor, dando ao meu filho, segurança, amor, autoestima, os mesmos direitos e deveres dentro da nossa casa e do nosso mundo que de qualquer filho heterossexual, e uma família livre da homofobia. Eu consegui, e hoje posso tranquilamente cobrar do Estado aquilo que eu já fiz na minha casa. Há alguns anos, me juntei aos muitos que diária e incansavelmente lutam neste país por direitos e contra a HOMOTRANSFOBIA. Eu vi o seu governo desde o começo rendido ao fundamentalismo em prol da governabilidade que precisava da bancada evangélica para ter números em outras causas. Ou seja: vi os direitos do meu filho e de toda a comunidade LGBTT usados como moeda de troca. O KIT GAY, apelidado assim pelos fundamentalistas, que não passava de uma forma de esclarecer professores, e apenas professores, da rede pública sobre orientação sexual e identidade de gênero e mostrar como lidar com a diversidade, derrubou um Ministro e foi sumariamente descartado pela senhora com a preconceituosa e dolorida frase: “O meu governo não fará propaganda de “OPÇÃO” sexual”. Mas a comunidade LGBTT ajudou na sua eleição e, este movimento social suprapartidário, sempre teve nas horas oportunas uma bandeira levantada como exclusividade do seu partido para em seguida ser jogado na arena de leões. No seu governo vimos um arauto da discriminação ser agraciado com uma COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E MINORIAS. E vimos, rapidamente, uma causa que em 2012 era absolutamente relegada a segundo plano por essa comissão, tendo pouco mais de 1% de sua pauta ligada a ela, ser elevada a protagonista como ALVO da apelidada CURA GAY, pelo absurdo que sugere. Infelizmente para os fundamentalistas, e digo FUNDAMENTALISTAS e não evangélicos, jornalistas não são de fácil manipulação e imediatamente a imprensa brasileira somou sua voz a nossa contra essa INJUSTIÇA.

Faço a diferenciação e deixo claro que minha filha é evangélica e fundamentalistas NÃO a representam. A família do meu genro é evangélica e fundamentalistas NÃO os representam. Tenho primas e amigos evangélicos e fundamentalistas NÃO os representam. Ao Pastor Ricardo Gondim, fundamentalistas NÃO o representam. Ao Conic e a toda liderança evangélica que se levantou contra Marco Feliciano na CDHM, fundamentalistas NÃO os representam. Fundamentalistas são aqueles que atacam em todas as frentes, tentando violar o Ministério Público, o Poder Judiciário que é o guardião da nossa Constituição, a independência entre os poderes que é base de nossa DEMOCRACIA, os Conselhos e Órgãos de Classe, a Laicidade do Estado e, finalmente, o Poder Divino que nos concedeu livre arbítrio, contrariando seus desejos, com suas infinitas PECs e PDCs.

Estes fundamentalistas, que dizem ir para as ruas contra a corrupção, tiveram, nos últimos dias, circulando na internet a prova de que formam a bancada mais corrupta de todas. E é por eles que o executivo deste país está sequestrado em prol da governabilidade. Enquanto isso, nos chegam notícias de LGBTTs que morrem e são torturados pelo país afora, como o menino de 20 anos que foi apedrejado com tijolos de concreto esta semana em Uberlândia e vemos uma MÃE desesperada vir a TV fazer um apelo por JUSTIÇA. Por isso, quando meus filhos nasceram, entreguei os dois a Nossa Senhora, para que os cobrisse com seu manto sagrado e os protegesse, talvez já intuindo que neste país a proteção só pode vir dos céus. E até hoje entrego meu filho a Nossa Senhora, quando sai às ruas do país CAMPEÃO MUNDIAL EM CRIMES HOMOFÓBICOS. Nossa Senhora, essa que vi sendo quebrada a marteladas na TV, por um pastor, Nossa Senhora, esta que representa a MÃE em uma religião que é taxada de FAJUTA E MORTA por certo fundamentalista que hoje tem a indecência de vir a público se dizer representante dela e de todos os cristãos.

Presidenta… a senhora já ouviu dizer que LGBTTs têm poder econômico proveniente de dízimo, bancadas, mídias impressas, isenção tributária, radio, TV, capilaridade no estado, que fazem PECs ou usam de qualquer mecanismo que seja pra lutar contra os direitos de alguém neste país ? Ou que algum fundamentalista neste país foi morto, torturado, expulso de algum lugar ou perdeu seu emprego por discriminação? A senhora sabia que o direito de CRER deles está assegurado na mesma lei do racismo e preconceito em que LGBTTs lutam diariamente, com esforços vãos, para colocar seu direito de SER através do PLC 122? Que atingimos o direito ao casamento CIVIL igualitário através do Judiciário, mas que ainda teremos que mover céus e mares para que ele vire lei? Me diga, Presidenta, aonde estão esses privilégios que dizem que a comunidade LGBTT quer ou tem neste país, porque, por mais que eu tente, não consigo ver.

O que eu posso ver, pela primeira vez e frente aos absurdos que vem acontecendo , é a imprensa livre e a opinião pública espontaneamente se levantando contra as injustiças que sofre a Comunidade LGBTT. Se levantando contra a tentativa de se fazer acepção de seres humanos, a favor de direitos de cidadãos contribuintes, pelo fim do preconceito. O mundo ocidental está em evolução permanente, Presidenta, e a não ser que nos coloquem numa redoma blindada, seguiremos o curso natural da história a caminho da igualdade cuja luta incendeia o mundo neste momento. Não teve nazista, escravagista ou Ku Klux Klan que impedisse a história de avançar, por mais que tentassem.

Olhe o mundo ao seu redor neste momento e se inspire. A senhora quer ser lembrada pela história como Nelson Mandela, que coloca milhões nas ruas para homenageá-lo e reverencia-lo por sua luta por Igualdade, ou como o fundamentalista Mohamed Morsi, que coloca outros milhões para protestar contra ele e contra a violação da laicidade do estado? Eu peço, como mãe, que seu governo dê a todos os seus cidadãos os mesmos direitos e os mesmos deveres, nem mais nem menos, assim como eu fiz na minha FAMÍLIA. E isso só acontecerá com a criminalização da homotransfobia através do PLC 122 (onde já está o preconceito religioso), a legalização do casamento CIVIL igualitário, a educação contra a homotransfobia e a proteção do Estado contra absurdos como a CURA GAY. Eu garanto que, neste dia, eu voltarei para as flores do meu Jardim e nunca mais se ouvirá falar de ATIVISMO LGBTT, porque ele só existe em função do preconceito e do cerceamento de direitos. E não veja nesta carta nenhuma tentativa de intimidação, chantagem ou ameaça, não é desta forma que dirigimos nossa luta, nós não lançamos mão deste tipo de expediente. A nossa, é feita com honestidade, coerência , argumentos e a favor dos nossos direitos sem nos colocarmos contra os de ninguém. Não, Presidenta, os cristãos NÃO são todos iguais. LUTE POR NÓS PRESIDENTA!

segunda-feira, 1 de julho de 2013

O perfil dos manifestantes no Facebook - Eliseu Barreira Junior


http://ideas.scup.com/pt/o-monitor/o-perfil-dos-manifestantes-no-facebook/
O perfil dos manifestantes no Facebook
OLHAR DA SEMANA, por Eliseu Barreira Junior

Quem são, o que curtem e quais ídolos admiram os usuários do Facebook que mais falaram dos protestos que mobilizaram o Brasil


O usuário do Facebook que protestou na rede social nas últimas semanas é homem, tem entre 20 e 29 anos e vive em São Paulo. Gosta de ouvir Adele e rock, lê a Bíblia tanto quanto as histórias fantásticas de O senhor dos anéis e assiste a filmes de ação como Star Wars e Avatar. Quando vê TV, fica dividido entre o humor dos programas Os Simpsons, CQC e Pânico. Crítico aos gastos com a Copa das Confederações, curte futebol e torce, principalmente, para o Corinthians. Seus atletas preferidos são Anderson Silva, Ayrton Senna e Kaká. Se precisa de inspiração, recorre às lições de figuras cristãs, budistas e espíritas.

Traçado numa análise exclusiva a partir dos dados coletados pelo monitoramento público do Scup, esse perfil reflete traços marcantes do brasileiro médio e mostra interesses de uma juventude que se alimenta de símbolos pop para mudar o país. O estudo, feito com os “likes” dos 3600 usuários que mais falaram dos protestos no Facebook entre os dias 13 e 27 de junho, traz alguns insights interessantes.

Primeiro, o sincretismo religioso fincou raízes fortes em nossa sociedade. Os manifestantes têm como modelo Jesus Cristo, Mahatma Gandhi e Chico Xavier – os gênios Albert Einstein e Steve Jobs completam o panteão dos cinco mais inspiradores.

Segundo, gente como Karl Marx e Che Guevara, que fez a cabeça de uma geração de revolucionários, apesar de lembrada, não motiva mais como antigamente. Nelson Mandela, Clarice Lispector e Martin Luther King Jr vêm à frente deles. Parece que as conquistas práticas de Mandela e King são mais digeríveis pelos manifestantes do que as utopias de Marx e Che.

Terceiro, o rock é o estilo de música que domina o dia a dia dos manifestantes. Dos 15 artistas e bandas identificados, 10 se enquadram nessa categoria. Os mais destacados são Beatles, Legião Urbana e Coldplay. Bem que a letra de “Que país é esse?”, do Legião, poderia ser eleita o hino dos manifestantes: “Nas favelas, no Senado / Sujeira pra todo lado / Ninguém respeita a Constituição / Mas todos acreditam no futuro da nação / Que país é esse? / Que país é esse? / Que país é esse?”.

Quarto, diversos elementos da cultura pop despertam o interesse de quem decidiu protestar “contra tudo” nas últimas semanas. Star Wars, Piratas do Caribe, Shrek e o corajoso bruxinho Harry Potter compõem a lista. O que há em comum entre essas histórias? A luta entre o bem e o mal e anti-heróis. Nos protestos de rua que vimos, partidos, políticos e instituições seriam o mal; o personagem Guy Fawkes, representado nas diversas máscaras usadas pelos manifestantes, simbolizaria o anti-herói justiceiro.

Por fim, entre os livros, chama a atenção o gosto pela Bíblia e O pequeno príncipe. Recém-completados 70 anos, O pequeno príncipe, do francês Antoine de Saint-Exupéry, é considerado um livro existencialista que narra “o reencontro do adulto com o olhar perdido de criança e também o encontro da criança com questões da vida adulta”, nas palavras da professora de literatura da Universidade de São Paulo (USP) Verónica Galíndez Jorge. Parece que os jovens brasileiros cresceram e não curtiram muito a realidade com que se depararam.

Como é possível observar, estudos feitos a partir dos “likes” de usuários do Facebook permitem diferentes interpretações psicológicas sobre quem – e o quê – está por trás de um fenômeno social. Enquanto pesquisas tradicionais ficam restritas a informações de escolaridade, idade, sexo e filiação partidária, por exemplo, a análise dos gostos e interesses compartilhados publicamente na rede ajudam a construir um perfil mais profundo e complexo de camadas da sociedade. As diversas “pegadas” que deixamos no universo digital carregam referências e hábitos culturais valiosos para acadêmicos, governantes e profissionais de marketing.

A tendência é que análises do tipo ganhem cada vez mais espaço nos próximos anos. Seu avanço dependerá do desenvolvimento de tecnologias capazes de ajudar na extração dessas informações. A funcionalidade do Scup que usamos para produzir o estudo está em fase de testes e deverá ser disponibilizada para o mercado nos próximos meses. Por enquanto, é possível obter análises assim na ferramenta a partir de e-mails associados a perfis sociais públicos. A nova tecnologia que está sendo desenvolvida dispensará a necessidade do e-mail.

COLABORARAM Claudia Gasparini, Lucas Moschione e Santiago Oliveira