sexta-feira, 5 de julho de 2013

Mãe Pela Igualdade


Carta Aberta de uma MÃE à Presidenta Dilma Rousseff
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2 comentários:
Copiei de Maju Giorgi, Mãe Pela Igualdade

Meu nome é Maria Júlia Giorgi e, antes de qualquer coisa, sou “MÃE”. Ao contrário de muitos, não vou acusá-la por tudo que está acontecendo, porque tenho absoluta certeza que a culpa não é sua, ou, pelo menos, não é SÓ sua. Vou falar um pouco da minha FAMÍLIA, para que a senhora veja o quanto ela se parece com o país diverso que a senhora dirige. Eu tenho 2 filhos, um menino de 25 anos e uma menina de 22. André e Gabriela, BRASILEIROS. O meu filho é GAY. É jornalista, fotógrafo e já tem, aos 25 anos, um reconhecimento profissional invejável. É retratista e, inclusive, a senhora já foi fotografada por ele quando ainda era Ministra, em uma Couro Moda há alguns anos atrás, numa época em que eu ainda era sua fã e admirava sua personalidade que parecia indestrutível. Meu filho é um trabalhador e paga todos os tributos devidos ao seu governo. É muito espiritualizado e se enche de fé ao dizer “O meu Deus é o mesmo de Gandhi e de Bhagavad Gita.” Esse menino é um orgulho para nós todos, sua FAMÍLIA. A Gabriela, minha filha, é heterossexual, e se formará, COM LOUVOR, num futuro bem próximo, em Psicologia em uma das melhores universidades deste país. Ela tem um sonho… o de trabalhar com crianças com DDA, e eu tenho absoluta certeza que irá concretiza-lo com sucesso. A Gabi é EVANGÉLICA praticante. Foi a religião que ela escolheu e na qual quis ser batizada ainda no começo da adolescência, e contou com nosso apoio irrestrito. O pai dos meus filhos, meu marido, é economista e também paga todos os tributos devidos à nação. É daqueles homens que nasceram para ser PAI e que têm nos filhos seus melhores amigos. Ele vive para os dois, para a FAMÍLIA, e não mede esforços para dar conforto e estabilidade a todos. Ele é católico praticante, daqueles que carregam Nossa Senhora e São José na carteira para que o protejam em momentos difíceis. Meus dois filhos têm relacionamentos estáveis que já duram anos. E meus dois genros são completamente inseridos na minha família como um todo, que inclui avós, tios, primos, amigos, festas de Natal, de Páscoa e viagens de família.

Mas nem sempre foi assim! Eu precisei lutar muito, muito para chegar neste HOJE. Eu tive que vencer uma depressão, fobia social, quase tive meu casamento desfeito, vi a minha vida estraçalhada por uma sociedade homotransfóbica e por um governo omisso e rendido ao fundamentalismo. Cada vez que meu filho saia de casa, eu era tomada por um medo incontrolável de que ele não iria voltar. Meu filho, presidenta, sempre foi GAY. Eu me lembro de que quando ele era muito pequenininho, deveria ter uns 5 anos, um dia, vendo ele brincar, perguntei ao meu irmão: “Você acha que ele é GAY??” E o meu irmão me dizia: “Nãaao… acho que ele vai ser um intelectual!” Hoje, eu e meu irmão damos risada dessa época. Meu irmão diz: “É lógico que ele já era gay, eu só queria te acalmar!” Por amor a este filho, que eu sabia que jamais deixaria de ser gay, eu resolvi me levantar do sofá, largar a minha vidinha de dona de casa, a minha zona de conforto, as flores do meu jardim, e transformar o mundo… primeiro ao meu redor, dando ao meu filho, segurança, amor, autoestima, os mesmos direitos e deveres dentro da nossa casa e do nosso mundo que de qualquer filho heterossexual, e uma família livre da homofobia. Eu consegui, e hoje posso tranquilamente cobrar do Estado aquilo que eu já fiz na minha casa. Há alguns anos, me juntei aos muitos que diária e incansavelmente lutam neste país por direitos e contra a HOMOTRANSFOBIA. Eu vi o seu governo desde o começo rendido ao fundamentalismo em prol da governabilidade que precisava da bancada evangélica para ter números em outras causas. Ou seja: vi os direitos do meu filho e de toda a comunidade LGBTT usados como moeda de troca. O KIT GAY, apelidado assim pelos fundamentalistas, que não passava de uma forma de esclarecer professores, e apenas professores, da rede pública sobre orientação sexual e identidade de gênero e mostrar como lidar com a diversidade, derrubou um Ministro e foi sumariamente descartado pela senhora com a preconceituosa e dolorida frase: “O meu governo não fará propaganda de “OPÇÃO” sexual”. Mas a comunidade LGBTT ajudou na sua eleição e, este movimento social suprapartidário, sempre teve nas horas oportunas uma bandeira levantada como exclusividade do seu partido para em seguida ser jogado na arena de leões. No seu governo vimos um arauto da discriminação ser agraciado com uma COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E MINORIAS. E vimos, rapidamente, uma causa que em 2012 era absolutamente relegada a segundo plano por essa comissão, tendo pouco mais de 1% de sua pauta ligada a ela, ser elevada a protagonista como ALVO da apelidada CURA GAY, pelo absurdo que sugere. Infelizmente para os fundamentalistas, e digo FUNDAMENTALISTAS e não evangélicos, jornalistas não são de fácil manipulação e imediatamente a imprensa brasileira somou sua voz a nossa contra essa INJUSTIÇA.

Faço a diferenciação e deixo claro que minha filha é evangélica e fundamentalistas NÃO a representam. A família do meu genro é evangélica e fundamentalistas NÃO os representam. Tenho primas e amigos evangélicos e fundamentalistas NÃO os representam. Ao Pastor Ricardo Gondim, fundamentalistas NÃO o representam. Ao Conic e a toda liderança evangélica que se levantou contra Marco Feliciano na CDHM, fundamentalistas NÃO os representam. Fundamentalistas são aqueles que atacam em todas as frentes, tentando violar o Ministério Público, o Poder Judiciário que é o guardião da nossa Constituição, a independência entre os poderes que é base de nossa DEMOCRACIA, os Conselhos e Órgãos de Classe, a Laicidade do Estado e, finalmente, o Poder Divino que nos concedeu livre arbítrio, contrariando seus desejos, com suas infinitas PECs e PDCs.

Estes fundamentalistas, que dizem ir para as ruas contra a corrupção, tiveram, nos últimos dias, circulando na internet a prova de que formam a bancada mais corrupta de todas. E é por eles que o executivo deste país está sequestrado em prol da governabilidade. Enquanto isso, nos chegam notícias de LGBTTs que morrem e são torturados pelo país afora, como o menino de 20 anos que foi apedrejado com tijolos de concreto esta semana em Uberlândia e vemos uma MÃE desesperada vir a TV fazer um apelo por JUSTIÇA. Por isso, quando meus filhos nasceram, entreguei os dois a Nossa Senhora, para que os cobrisse com seu manto sagrado e os protegesse, talvez já intuindo que neste país a proteção só pode vir dos céus. E até hoje entrego meu filho a Nossa Senhora, quando sai às ruas do país CAMPEÃO MUNDIAL EM CRIMES HOMOFÓBICOS. Nossa Senhora, essa que vi sendo quebrada a marteladas na TV, por um pastor, Nossa Senhora, esta que representa a MÃE em uma religião que é taxada de FAJUTA E MORTA por certo fundamentalista que hoje tem a indecência de vir a público se dizer representante dela e de todos os cristãos.

Presidenta… a senhora já ouviu dizer que LGBTTs têm poder econômico proveniente de dízimo, bancadas, mídias impressas, isenção tributária, radio, TV, capilaridade no estado, que fazem PECs ou usam de qualquer mecanismo que seja pra lutar contra os direitos de alguém neste país ? Ou que algum fundamentalista neste país foi morto, torturado, expulso de algum lugar ou perdeu seu emprego por discriminação? A senhora sabia que o direito de CRER deles está assegurado na mesma lei do racismo e preconceito em que LGBTTs lutam diariamente, com esforços vãos, para colocar seu direito de SER através do PLC 122? Que atingimos o direito ao casamento CIVIL igualitário através do Judiciário, mas que ainda teremos que mover céus e mares para que ele vire lei? Me diga, Presidenta, aonde estão esses privilégios que dizem que a comunidade LGBTT quer ou tem neste país, porque, por mais que eu tente, não consigo ver.

O que eu posso ver, pela primeira vez e frente aos absurdos que vem acontecendo , é a imprensa livre e a opinião pública espontaneamente se levantando contra as injustiças que sofre a Comunidade LGBTT. Se levantando contra a tentativa de se fazer acepção de seres humanos, a favor de direitos de cidadãos contribuintes, pelo fim do preconceito. O mundo ocidental está em evolução permanente, Presidenta, e a não ser que nos coloquem numa redoma blindada, seguiremos o curso natural da história a caminho da igualdade cuja luta incendeia o mundo neste momento. Não teve nazista, escravagista ou Ku Klux Klan que impedisse a história de avançar, por mais que tentassem.

Olhe o mundo ao seu redor neste momento e se inspire. A senhora quer ser lembrada pela história como Nelson Mandela, que coloca milhões nas ruas para homenageá-lo e reverencia-lo por sua luta por Igualdade, ou como o fundamentalista Mohamed Morsi, que coloca outros milhões para protestar contra ele e contra a violação da laicidade do estado? Eu peço, como mãe, que seu governo dê a todos os seus cidadãos os mesmos direitos e os mesmos deveres, nem mais nem menos, assim como eu fiz na minha FAMÍLIA. E isso só acontecerá com a criminalização da homotransfobia através do PLC 122 (onde já está o preconceito religioso), a legalização do casamento CIVIL igualitário, a educação contra a homotransfobia e a proteção do Estado contra absurdos como a CURA GAY. Eu garanto que, neste dia, eu voltarei para as flores do meu Jardim e nunca mais se ouvirá falar de ATIVISMO LGBTT, porque ele só existe em função do preconceito e do cerceamento de direitos. E não veja nesta carta nenhuma tentativa de intimidação, chantagem ou ameaça, não é desta forma que dirigimos nossa luta, nós não lançamos mão deste tipo de expediente. A nossa, é feita com honestidade, coerência , argumentos e a favor dos nossos direitos sem nos colocarmos contra os de ninguém. Não, Presidenta, os cristãos NÃO são todos iguais. LUTE POR NÓS PRESIDENTA!

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