terça-feira, 10 de agosto de 2021

Enchente

ENCHENTE Jorge de Lima (1932) _Por que as jandaias e os periquitos estão gritando como os meninos do Grupo, na hora de vadiar? _É uma cabeça de enchente que veio ontem de tarde. E o rio deu pra falar grosso E bancar Zé-pabulagem: _ “Não duvide que eu levo a sua almofada de fazer renda, minha velha!” E o rio cresceu. Entrou na camarinha e lá se foi com a almofada da velha! _”Deus te favoreça, meu filho, você, ainda outro dia, era tão manso, lavava até os pratos de minha cozinha!” _“Não duvide, seu canoeiro Que eu emborco a sua canoa!” E rodou com o canoeiro e virou a canoa mesmo. E entrou nos fundos das casas e saiu nas portas da rua. Subiu no olho da ingazeira, tirou ingá e comeu. Pulou das pedras embaixo, espumando como um doido. Fez até medo às piabas, que correram pra os barreiros. Só os meninos estão satisfeitos: _”Deus permita que o rio encha mais!” _”Deus permita que o rio encha mais!” Quando o rio entrar na rua, as salas de visita serão banheiros. Eles deitarão barquinhos de cima das janelas, e a professora fechará a escola! _”Deus permita que o rio encha mais!” _”Deus permita que o rio encha mais!”

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