No aniversário do golpe, clubes militares atacam Comissão Nacional da Verdade
Segundo os clubes, as ações das Forças Armadas desde o início da
República garantiram sua credibilidade. “Não foi por outro entendimento que o
povo brasileiro, no início da década de 1960, em movimento crescente, apelou e
levou as Forças Armadas Brasileiras à intervenção, em Março de 1964, num
governo que, minado por teorias marxistas-leninistas, instalava e incentivava a
desordem administrativa, a quebra da hierarquia e disciplina no meio militar e
a cizânia entre os Poderes da República”, diz a nota, divulgada ontem (28), mas
com data de 31 de março, assinada pelos presidentes do Clube Militar, general
do Exército Renato Cesar Tibau da Costa, do Clube Naval, vice-almirante Ricardo
Antonio da Veiga Cabral, e do Clube da Aeronáutica, tenente brigadeiro-do-ar
Ivan Moacyr da Frota.
Essa intervenção, afirmam os militares, teria beneficiado o país em
várias setores (economia, comunicações, transportes, social, político), “além
de outros que a História registra e que somente o passar do tempo poderá
refinar ou ampliar, como sempre acontece”. Mas – acrescentam – as “minorias
envolvidas na liderança da baderna que pretendiam instalar no Brasil” tentaram
se organizar e, financiadas por capital estrangeiro, “iniciaram ações de
terrorismo, com atentados à vida de inocentes que, por acaso ou por simples
dever de ofício, estivessem no caminho dos atos delituosos que levaram a cabo”.
Nesse trecho da mensagem entram os ataques à Comissão da Verdade. “E que
não venham, agora, os democratas arrivistas, arautos da mentira, pretender dar
lições de democracia. Disfarçados de democratas, continuam a ser os
totalitários de sempre”, afirmam, apontando uma resolução da CNV, de agosto de
2012, que definiu como sua área de investigação as violações de direitos
humanos praticadas “por agentes públicos, pessoas a seu serviço, com apoio ou
no interesse do Estado”. Para os militares, a comissão alterou a Lei 12.528
(que criou a própria CNV) a fim de “'varrer para debaixo do tapete' os crimes
hediondos praticados pelos militantes de sua própria ideologia”.
Segundo o jornal O Estado de S.
Paulo, em fevereiro o brigadeiro Ivan Frota procurou o então
presidente da comissão, Cláudio Fonteles, para encaminhar em nome da Academia
Brasileira de Defesa (ABD), que ele preside, documentos e publicações para que
servissem de "subsídios para a apreciação isenta dos fatos". Em
entrevista, o militar disse que a CNV "tem trabalhado em uma direção
única", sem dar direito à defesa ao "outro lado".
No manifesto referente aos 49 anos do
golpe, os representantes militares criticaram o que chamam de terrorismo
daqueles que "almejavam empalmar o poder para fins escusos". Não
fazem referência as ações praticadas pelo "outro lado", representado
pelo Estado, exatamente o foco das investigações feitas pela comissão, que em
maio completará metade de seu mandato de dois anos.
A nota é divulgada no dia em que se
completam 45 anos da morte, pela polícia, do estudante paraense Edson Luís de
Lima Souto, de 18 anos, durante protesto no Rio de Janeiro. Em 13 de dezembro
daquele ano (1968), o governo baixaria o Ato Institucional número 5 (AI-5),
formalizando a fase mais dura do regime iniciado em 1964.”
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