Slogan pro Viagra
Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.
Bioy: “Hemingway dizia: ‘Quando tenho de enviar uma mensagem, vou ao correio’, ou coisa parecida”.
Implicâncias
Pra rebater minha lista de preferências, Mário
Goulart me pergunta sobre minhas implicâncias. Na verdade eu tinha
pensado primeiro nas implicâncias, mas deixei pra lá porque falar delas é
mais fácil, não? As implicâncias, como o próprio nome indica, estão no
terreno do irracional e são folclóricas quase sempre. Quer dizer, a
gente nem precisa se justificar.
1. O sorriso da Adriane Galisteu. Cada vez que vejo essa viúva profissional, a burca me parece um aparato dos mais louváveis.
2. Tenho ojeriza à palavra ojeriza. Minha ojeriza por
ela só perde pra minha ojeriza às palavras elencar, protagonismo,
experienciar e obstaculizar. Me dá uma coisa nos ouvidos, quando as
ouço, pior que a pressão na aterrissagem.
3. Também mantenho distância da palavra relva. Talvez
seja a palavra mais fresca em português. O dia que eu vir uma placa,
numa praça, avisando que é proibido pisar na relva, me mudo de país.
4. Colina e bosque também têm um alto índice de
frescura. Tanta gente criada no meio do mato ou cercada de morros e
coxilhas vem falar em bosque e colina. Se não é tradutor, é
publicitário, aposto.
5. Discurso em formaturas ou de agradecimento a
prêmio recebido. Minha nossa, quando metem Deus e a mãe no meio… Nessas
horas gostaria de ter um teleporte pra ir sentir vergonha bem longe.
6. Caras que citam Lukács. Posso ter dado azar, mas nenhum sabia do que falava.
7. Cachorro-quente, hambúrguer e coca-cola. Como é
que um povo conseguiu a proeza de criar as duas piores comidas e a
bebida mais intragável? Como, ainda, conseguiu desenvolver uma
estratégia pra poder comer e beber essas porcarias em todos os lugares?
Quer a real? Me enchi desta lista.
Títulos
Nos tempos do Pasquim, o Ivan Lessa e o Jaguar tinham um personagem, escritor, que escrevia um romance chamado Lornhão da bauxita. Grande título. Praticamente imbatível, acho. Mesmo assim andei pensando em alguns:
1. Pavana para um guacamole triste.
2. Via de regra. (Trata-se, evidentemente, de um romance erótico.)
3. O lorpa e outrens.
4. A dama de sobrolho inefável.
5. O façanhudo, o gabola e a virgem.
6. As rubicundas de Anta Gorda.
7. À sombra das pilosas em flor.
8. A pororoca da Candinha.
9. As galochas do finado.
10. Pipilos e arrulhos. (Sonetos.)
11. El fauno y la remolacha.
Talvez eu devesse dar uma de Jorge Luis Borges, um
dia desses: escrever resenhas sobre esses livros. Ou melhor: fazer um
concurso aberto a todos, menos a membros da Academia Brasileira de
Letras, que com essa gentalha não me misturo. Os autores das melhores
resenhas receberiam o título Miss Anta Gorda, ou Mister, se for o caso. O
diploma seria uma anta gorda desenhada num guardanapo do buteco da
esquina, se é que eu consigo convencer algum desenhista a entrar nessa
jogada. Veremos.
Na escola
Eu não devia dizer, mas, sem lua, sem conhaque,
fiquei comovido como o diabo. Depois que falei com várias turmas numa
escola, crianças que tinham comprado meus livros quiseram autógrafos.
Quando se entusiasmam com uma história, elas se sentem nossas amigas
íntimas e precisam dizer isso bem de pertinho, se possível com as mãos. É
provável que por trás disso esteja a necessidade de comprovar a
realidade do sujeito, porque é bastante comum a fantasia de que livros
surgem do nada, ou da cabeça de gente que já morreu há muito ou mora no
estrangeiro. Enfim, uma menina aí de uns oito ou nove anos, sem saber o
que me dizer, ficou me olhando nos olhos um bom tempo e me disse com a
voz mais doce: “Como teus óculos são bonitos”.
Charla de Jorge Luis e Bioy Casares
Borges: “Admiram Saroyan por sua mensagem de esperança. Que importa a
mensagem? O que é? Uma palmadinha no ombro? O que isso tem a ver com a
literatura?”.Bioy: “Hemingway dizia: ‘Quando tenho de enviar uma mensagem, vou ao correio’, ou coisa parecida”.
Borges lembra quando Donald Yates, que partia para o
México, perguntou melosamente a Peyrou: “Qual é sua mensagem para os
jovens poetas mexicanos?”. Peyrou, cansado, respondeu: “Diga a eles que
vão pra puta que os pariu!”.
Ernani Ssó é o escritor que veio do frio: nasceu em Bom Jesus,
numa tarde de neve. Em 73, entrou pro jornalismo porque queria ser
escritor. Saiu em 74 pelo mesmo motivo. Humor e imaginação são seus
amuletos.
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